domingo, 20 de setembro de 2009

Gratidão de Um Pássaro


Cantarei para sempre o amor de Javé,
anunciarei de geração em geração
a tua fidelidade

Salmo 89, Vers. 2


O quinteiro da Chaniça Nova (Baixo Alentejo), Sr. Manuel Pedro, ouviu que, das bandas do tanque da quinta, vinha o piar angustioso de um passarito, a pedir socorro. Aproximou-se rapidamente. Um pequeno picanço revolvia-se na água e o bater convulso das suas asas, mais o aproximava da morte. O Sr. Manuel Pedro deitou-lhe as mãos e salvou-o.
A avezita, ainda atordoada, espanejou, alguns momentos, ao sol quente, pipilou uns trilos de alegria e, levantando voo, foi à sua vida...

O Sr. Manuel Pedro esqueceu o caso. Mas o pássaro é que não!...

Passado algum tempo estava o quinteiro entregue à sua faina de cavar o meloal, surgiu o picanço, a saltitar-lhe em volta, pousando-lhe ora num braço ora no outro e na cabeça, e procurando-lhe as mãos, como se quisesse beijá-las. E nunca mais deixou o seu salvador.
Todos os dias, o dia inteiro, anda ali perto. De vez em quando, engole, nas mãos do seu benfeitor, um gafanhotozito ou debica alguns bagos de cereal. Entra em casa, como se pertencesse à família, percorre os aposentos, saúda quem encontra no caminho, vai passear e depois volta...

Mais curioso ainda, é que os irmãos do picanço não vêem com bons olhos tais manifestações de amizade, e procuram afastá-lo, perseguindo-o à bicada. Levam-no para longe.

De nada serve, porém, a intransigência dos da sua espécie, porque o passarito, mal se liberta da perseguição, corre para casa daquele que o salvou da morte!...



(De um fragmento de Jornal antigo)

Contos

Luis – 2002-11-26

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