quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Retrato e Despedida de Mãe



- Mãe !

Passa a tua mão pela
minha cabeça !
Quando passas a tua mão na
minha cabeça é tudo tão verdade ! -
José de Almada Negreiros



Retrato...
Uma simples mulher existe que, pela imensidão do seu amor, tem um pouco de Deus; e pela constância da sua dedicação, tem muito de Anjo; que, sendo moça, pensa como uma anciã, e, sendo velha, age como as forças todas da juventude.
Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida e, quando sábia, assume a simplicidade das crianças.
Pobre, sabe enriquecer- se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrecer-se para que o seu coração não sangre ferido pelos ingratos.
Forte, entretanto, estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto, alteia-se com a bravura dos leões.
Viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam, e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo e dela receber um aperto de seus braços, um afago das suas mãos na nossa cabeça, uma palavra dos seus lábios...

Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas estas linhas; porque eu a vi passar no meu caminho... ainda que muito brevemente...
Quando crescerem vossos filhos, leiam para eles esta página; eles lhes cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca de sumptuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato e a despedida de sua própria Mãe...

Despedida...

« Na hora da morte dedico aos meus filhos...»

Deixo a vida uma criança
na flor da minha idade.
Deixo cá muitas amigas
e três filhos na orfandade.

Eu mostro sempre alegria
e boa disposição.
Mas levo muita tristeza
dentro do meu coração.

Eu levo comigo gestante
os meus queridos filhinhos,
pois bem cedo eles ficam
da Mãe sem ter carinhos.

Sei que eles ficam bem
há outros que ficam mais mal,
mas levo muito desgosto
de não os poder criar.

Aceito a morte bem
pois acabo de sofrer,
mas os meus filhinhos
nunca mais os torno a ver.

Há três anos que estou doente
na esperança de melhorar,
para eu poder um dia
os meus filhinhos abraçar.

Mas Deus achou demais
para mim essa alegria,
e sem me despedir deles
vou para a terra fria...


Carolina Monteiro (Ano 1949)


Falripas de Minha Mãe – Volume 2
Luis – 2001-03-28

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