sexta-feira, 2 de abril de 2010

Alta Costura...As Mãos de Minha Mãe...


É Tempo, Minha Mãe...
Pelo Natal, em Dezembro escuro, sem estrelas, é que nasci de novo,
a chorar e a tremer das sombras e dos caminhos que,
tão só, ia percorrer no Mundo...
Para me alegrar os olhos e calar o chôro, correste ao Presépio, a buscar-me um Anjo,
e sobre o berço abris-te a Estrela dos Reis Magos,
para que eu bem a conhecesse, pois havia de ser ela, que me guiaria feliz, na terra,
por toda a vida...
E desde essa hora, tu cantavas, a contentar-me:

«Dorme, dorme, meu menino,
que a Mãezinha se não vai...»


Uma voz de profecia segredava, a embalar-me:
- «Tu serás Príncipe, embarcado em galera de ouro,
e terás asas e voo como aquelas andorinhas,
que em ondas de alegria avistas do teu berço...
Nem no céu imenso acharás tropeço para cair,
nem no mar, onda brava que te possa afogar...»


E enquanto viveste, assim aconteceu, como a profecia rezava...

Era no teu rosto que despontava o sol e o dia,
quando, pelas manhãs eu acordava, a sorrir-te.
Mas também, se eu sofria, dos teus olhos tombava a noite,
com estrelas candentes, a correrem nas tuas faces...
E, nessas horas, já a tua voz não era firme nem contente.
Mas cantavas sempre, a enganar-me o coração:

«Dorme, dorme, meu menino,
que a Mãezinha nunca foge...»


Anos breves assim andei nas asas brancas dos teus braços
– asas partidas no dia negro em que tu partiste...
A galera de ouro quebrou-se logo em tábuas de naufrágio,
que a tempestade levou por todos os mares do Mundo...
O teu cântico passou a eco morto e sem promessa, que, já afogado,
não ia além do primeiro verso:

«Dorme, dorme, meu menino...»

Mãezinha!

Bem cedo se apagou a luz da Estrela Grande,
e também fugiu de mim o bom Anjo que então me deste!...
Em certas noites, de maior tristeza, a dar-me luz e alento, voltava, do alto,
mas em sonho, a tua voz cantante:

«Dorme, dorme, meu menino,
Que a Mãezinha logo vai...»


Os séculos que já lá vão e os desenganos que eu sofri!

Mãezinha!

São horas de voltares, porque o meu tempo correu,
e já sinto que se avizinha a hora do teu regresso...
Já revejo, sobre o leito, a Estrela Grande do meu berço.
E o Anjo do Presépio voltou ao leme, na galera de ouro,
que veio ancorar, cheia de flores, à beira da minha cama.
E é ele que, a cantar, baixinho, me fala da tua vinda:

«Dorme, dorme, meu menino,
Que a Mãezinha já lá vem...»


Para longe, Mãezinha, outra mão que me venha amortalhar!
Que nenhum dedo toque o corpo do teu menino!
Quero apenas as luzes leves dos teus olhos doces,
a fecharem as pálpebras tristes dos meus olhos tristes...
por te terem perdido tão cedo...

Falripas de Minha Mãe
Luis – 2002-11-11

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