quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Teatro - A Casa de Bernarda Alba de Federico Garcia Lorca com o Grupo «O Grito» em Almada




É hoje, pelas 21,30h no Fórum Romeu Correia em Almada, que o grupo de teatro «O Grito», um grupo jovem que iniciou a sua actividade em 1995, no Centro Cultural e Desportivo de Pinhal Vidal, em Corroios (desde 2002 autonomizaram-se como Associação e estão, desde então, no Centro Cultural Juvenil de Stº Amaro, em Almada, freguesia do Laranjeiro), faz a sua terceira apresentação deste excelente trabalho do dramaturgo Federico Garcia Lorca.

Lorca, andaluzo, Poeta e dramaturgo, nasceu em Fonte de Vauqeros em 1898 e morreu em Granada em 1936, assassinado, ficando para a história como uma das primeiras vítimas da guerra civil espanhola.
As suas opções políticas e orientação sexual, abertamente assumidas, terão ditado a sua sorte na sociedade ferozmente conservadora do seu tempo. Cursou Direito na sua cidade natal, Granada, após o que se mudou para Madrid onde fez amizade com intelectuais e artistas seus contemporâneos como Luis Brunel e Salvador Dali. É ainda em Madrid que publica os seus primeiros Poemas. Estados Unidos da América e Cuba são outros dos lugares por onde passa ao longo da sua curta vida. «Mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver», foi essa a sua sentença de morte.
Conhecido mundialmente como um dos mais notáveis Poetas do Século XX, integrando a chamada «geração dos 27», Lorca era dotado de uma personalidade extraordinariamente voltada para a arte, tendo feito também alguns trabalhos como compositor e alguns desenhos. Na escrita destacou-se também como dramaturgo.
O que nos retrata então «A Casa de Bernarda de Alba»?
Depois da morte de seu marido, Bernarda Alba impõe às suas cinco filhas, com luto, uma longa e rigorosa reclusão. Trata-se de um exagero de um costume real, de uma tradição levada a extremos.
«Nesta situação extrema, os conflitos, as forças, as paixões engrandecem-se, desenvolvem-se até à exasperação. Catalisador das forças encerradas na casa será a figura de Pepe Romano, noivo de Angústias, a filha mais velha, e objecto da paixão e desejo de Adela e Martírio, as mais novas, desencandeando-se assim uma disputa cruel e perigosa para conquistarem o amor desse homem, com consequências trágicas.
É sob esse contexto que Garcia Lorca nos transporta para um tema intemporal, onde a exigência dos padrões sociais falam sempre mais alto que a natureza humana, na sua face mais bondosa e nos catapultam para o sofrimento do quotidiano, aqui levado até ao limite.
Vemo-nos assim perante a eterna dualidade entre os padrões sociais e morais e a liberdade individual, num quadro em que a pressão da sociedade sobre o indivíduo, seja sob a forma da moral ou sob a forma dos costumes, pode conduzir, no limite, à tragédia, esta já não individual, mas social.
O tema é intemporal: nega-se a individualidade nas suas diferenças que constituem o colorido do todo social, para ajustar cada indivíduo a um padrão rigoroso, onde o sucesso tem malhas apertadas de beleza, de moda, etc, onde a exclusão social ganha quase sempre ».
Nesta versão de Lorca foi curiosamente escolhido pela sua Encenadora Anabela Neves, apresentar duas quadras que fazem parte da obra, mas duma forma cantada, num Coro de «alentejanos» constituído por: José Borralho, Daniel Marina, Francisco Sargento, Joaquim Avó, Adelino Pinto e Luis Moisão, ligados nomeadamente ao grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo» do Feijó e Alma Alentejana (Almada), que «dão vida» aos «Ceifeiros de Alba» tão enlevadamente escutados pelas jovens do seu tempo, a quando do seu regresso do trabalho.
Mais uma noite de bom Teatro, na sequência do êxito alcançado nas duas apresentações anteriores deste Grupo em Paio Pires.

No ar ficam os «ecos» das vozes dos «Ceifeiros de Alba» , entoando:
Já vieram os ceifeiros/para cortar as espigas/batei, batei corações/nos olhos das raparigas.
Abram portas e janelas/as que não vêm o céu/o Ceifeiro pede rosas/para enfeitar o chapéu....

2 comentários:

  1. Vimos mais uma vez e todos tornámos a gostar muito das maravilhosas interpretações destes jovens actores.
    Que dizer da «altiva» mãe Bernarda quando diz para as filhas: «nos 8 anos que vai durar o luto não vai entrar o vento nesta casa».
    Ou ainda quando em resposta à sua criada que lhe diz: «temos ou não temos confiança uma com a outra?» e ela responde de forma seca e incisiva: «não temos, tu serves-me e eu pago».
    E como «valorizar» a resposta vibrante de Adélia, a irmã mais nova quando acusada pela irmã Martíria de o seu procedimento não ser o de uma mulher honrada: «Ele só me quer a mim. Não me importa, quero sentir os seus beijos».
    E das sempre prontas e coniventes criadas da casa, o que dizer? Ou da Avó que só pensava em casar? E de todos os outros ?
    Enfim, Lorca no seu melhor, com um final emocionante («A minha filha morreu virgem, ouviiram?»...) servido a quente, em loiça de porcelana num palco jovem cheio de sangue na guelra e de um futuro promissor. Que não se percam, são os desejos. Aqui fica um obrigado a todos por tão bons momentos e um abraço. Felicidades

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  2. Valeu a pena podermos assistir à interpretação desta magnifica obra de Frederico Garcia Lorca, por estes excelentes actores que nos encantaram. Um Bem-Haja ao muito talento destes jovens.

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