quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Fenómeno mais raro na Vida?


«A vida é um dever, também se deve suportar a música...»

Quando falaste a primeira vez, falaste de….

Há poucas horas, as tuas palavras foram…. (as mesmas)
Sim, as palavras «retornam». Tudo retorna, as coisas e as palavras andam em círculo, depois encontram-se, tocam-se e encerram qualquer coisa…
Pergunta-me, o quê?
O que é que se pode perguntar das pessoas com «palavras»? O que vale a resposta que uma pessoa dá com «palavras» e não com a «realidade da sua vida?»... Vale pouco.
São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo às «realidades» das suas vidas. Talvez seja este o fenómeno mais raro na vida !
Não me refiro aos mentirosos, aos menos escrupulosos. Só penso que conhecer a verdade, adquirir experiência, de nada serve, porque ninguém consegue mudar o seu carácter. Talvez não se possa fazer mais nada na vida que adaptar à realidade com inteligência e cautela essa outra realidade inalterável, o «carácter pessoal». É a única coisa que podemos fazer. E mesmo assim, não seríamos mais sábios nem mais protegidos…
Onde está o limite entre seres humanos?
Porque não só as coisas acontecem com as pessoas. Cada um «gera» também aquilo que acontece consigo. «Gera-o», «invoca-o», não deixa de escapar aquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo, que saiba e sinta logo desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino «seguram-se» um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela «porta» que nós mesmos abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com «palavras» ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.
Dizia-me a certo ponto: «Já é tarde para isso…» Será?...
Alguns dizem-me que sou uma pessoa «diferente»…
Não percebo essa palavra, ainda não sei que significa «ser diferente»… (e muito menos só para alguns). Muito tempo e muitas horas solitárias, que se trata sempre disso, relação entre homem e mulher, amizades, relações mundanas, tudo depende disso: das diferenças que dividem a humanidade em dois grupos. Às vezes penso que só existem esses dois grupos no Mundo, e todas as variantes da sua «diversidade», as diferenças de classe social, de ideologias e de graus de poder, tudo advém dessa «diversidade». E, tal como apenas as pessoas do mesmo grupo sanguíneo podem ajudar-se nos momentos de perigo, ao dar o seu sangue a alguém que pertence ao mesmo grupo, assim a alma humana só pode ajudar outra alma humana, se não for «diferente», se o seu ponto de vista, a sua «realidade mais secreta» que a sua convicção, forem «semelhantes»…
Palavras de minha Avó, que não lia livros, mas a quem a solidão e a vida (a tal «bíblia da vida») tinham ensinado a conhecer a verdade; ela sabia dessa «diversidade», sim, ela também tinha encontrado um homem a quem amava muito, a cujo lado, porém, se sentia sozinha, porque eram duas pessoas «diferentes», dois temperamentos, dois ritmos de vida diferentes, porque a minha Avó era «diferente»…
O maior «segredo» e a maior «dádiva da vida», quando duas pessoas «semelhantes» se encontram. Isso é tão raro como se a Natureza «impedisse» com força e astúcia essa «harmonia» – talvez porque para a criação do Mundo e para a renovação da vida, necessita de «tensão» que se gera entre as pessoas que se procuram eternamente, mas que têm intenções e ritmos de vida «opostos»…
Sabes, «corrente alterna»… (dizia-me ela) onde quer que olhes, lá está essa troca de forças «positivas» e «negativas»…
E desde então me questiono: «porque ardem as velas até ao fim?»



Falripas da Vida
Luis - 2008-01-20

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Mendigo Cego e o Mendigo Aleijado


Eram dois mendigos, um cego e o outro aleijado. Ambos viviam na floresta, fora da aldeia. Claro que eram rivais, eram inimigos –mendigar é um negócio.
Mas um dia houve um incêndio na floresta. O aleijado não tinha como escapar, porque não podia deslocar-se sozinho. Tinha olhos para ver por onde poderia escapar ao fogo, mas de que é que isso lhe serviria se não tinha pernas ?
O homem cego tinha pernas, conseguia mover-se rapidamente e escapar do fogo, mas como é que podia encontrar os lugares onde o fogo ainda não tinha chegado?
Ambos iriam morrer na floresta, queimados vivos. A emergência era tal que esqueceram a rivalidade. Livraram-se imediatamente do seu antagonismo – essa seria a única maneira de poderem vir a sobreviver.
O homem cego levantou o aleijado sobre os seus ombros e juntos encontraram o caminho para escaparem do fogo. Um estava a ver e o outro estava a deslocar-se, seguindo as indicações daquele que via.

Tem de acontecer consigo algo semelhante – mas, claro, na ordem inversa. A cabeça tem os olhos, o coração tem a coragem de se envolver em tudo. Você terá de fazer uma síntese entre os dois. E a síntese, é importante salientar – deve ser o coração a continuar a ser o senhor e a cabeça tornar-se o criado.
Como criado, tem ali um bem muito precioso –a sua razão.

Um homem consciente usa a cabeça como criado e o coração como senhor.

O coração tem todas as qualidades femininas: amor, beleza, graça.

A cabeça é bárbara.

Luis - 2004-10-18

domingo, 27 de setembro de 2009

O Meu Deus É Desconcertante!...



O meu Deus É desconcertante:
É íntimo e É transcendente,
É doce e É violento,
É eterno e nasce sempre.
Bendiz o que tantos temem,
Ama o que tantos depreciam,
Pede o que parece impossível...

Está sempre presente
e ninguém vê a Sua cara.
Quem ama o próximo,
ama a Ele.

Quanto mais me aproximo Dele,
quanto mais O amo,
menos O entendo...
É o amor e existe o inferno.
É alegria e dor ao mesmo tempo.
É santo e foi amigo de pecadores.
É virgem
e Se deixou tocar
e amar pelas prostitutas.
Clamou contra os ricos
e comeu com eles.

É difícil
O meu Deus desconcertante,
para o homem que deseja medi-Lo,
para quem quiser impor-Lhe uma lógica,
pois Ele escapa a todas as lógicas,
e a todas as nossas medidas


O meu Deus É assim:
maravilhoso, inefável,
único e desconcertante.
É o ser em movimento,
É o que foi,
O que é e o que será.

Ele É tudo
e nada é
O meu Deus desconcertante.
É Aquele a quem:
Se crê sem se ver,
Se ama sem Lhe tocar,
Se espera sem O entender,
Se possui sem O merecer...



Falripas do Meu Deus – Volume 1

Luis – 2002-11-07

Beja, minha Terra Natal


É a minha Terra Natal, sim senhor! Nascido e criado até à idade de 16 anos, aí está ela em todo o esplendor da Rainha da Planície, representada no seu eterno e belo Castelo, desde há muitos anos iluminado à noite.

Beja é uma cidade portuguesa, capital do Distrito de Beja, na região Baixo Alentejo, e pertencente à NUTS III Baixo Alentejo[2], sedia a Diocese de Beja, com cerca de 21 658 habitantes.[3]É sede de um dos maiores municípios de Portugal, com 1 140,21 km² de área e 34 776 habitantes[1] (2006), subdividido em 18 freguesias. O município é limitado a norte pelos municípios de Cuba e Vidigueira, a leste por Serpa, a sul por Mértola e Castro Verde e a oeste por Aljustrel e Ferreira do Alentejo.
Crê-se que a cidade foi fundada, cerca de 400 a.C., pelos Celtas[4] ou mais provavelmente pelos Cónios, que a terão denominado Conistorgis, e que os Cartagineses lá se estabeleceram durante algum tempo. As primeiras referências a esta cidade aparecem no século II a.C., em relatos de Políbio e de Ptolomeu.Com o nome alterado para Pax Julia, foi sede de um conventus (circunscrição jurídica) pouco depois da sua fundação, teve direito itálico e esta cidade albergou uma das quatro chancelarias da Lusitânia, criadas no tempo de Augusto. A sua importância é atestada pelo facto de por lá passar uma das vias romanas.Os Alanos, Suevos e os Visigodos dominaram esta cidade depois da queda do Império Romano, tornando-a sede de bispado.No século V, depois de um breve período no qual haverá sido a sede da Tribo dos Alanos, os Suevos apoderaram-se da cidade, sucedendo-lhes os Visigodos. Nesta altura passa a cidade a denominar-se Paca.Do século VIII ao ano de 1162, esteve sobre a posse dos Árabes, designadamente no domínio dos Abádidas do Reino Taifa de Sevilha. No referido ano os cristãos reconquistado definitivamente a cidade. Recebeu o foral em 1524 e foi elevada a cidade em 1517.Criado pelo Rei D. Afonso V de Portugal em 1453, o título de Duque de Beja foi atribuído ao segundo filho varão, até à instituição da Casa do Infantado, em 1654, pelo Rei D. João IV, tendo-o como base.Actualmente, está a ser construído o Aeroporto Internacional de Beja, com o objectivo de captar investimentos estrangeiros. Crê-se que o Aeroporto vá fazer crescer a Cidade de forma considerável, estando os locais na expectativa em melhores dias de vida que daí possam advir.

sábado, 26 de setembro de 2009

Desdita de Poeta !...



Naquela esconsa «trapeira»,
servindo a musa directa,
habita, à sua maneira
um malogrado Poeta

Misérias que são bem suas,
para si valem milhões…
naquelas paredes nuas,
(cofre forte de ilusões !...)
Uma cama em desalinho,
no chão, pontas de cigarro.
Num tosco banco de pinho,
um velho alguidar de barro…

Numa improvisada estante,
num prego dependurada,
uma capa de estudante
já velhinha e esburacada…

Sobre a mesa, uma botija,
onde – embora falte o pão –
há sempre um golo da «rija»,
p’ra ajudar a inspiração

Uns retratos de família,
vários Poemas dispersos,
constituem a mobília
de quem sonha e compõe Versos !

Como fica de velada,
com a musa feiticeira…
às cinco da madrugada,
ainda tem luz na «trapeira» !...
A Senhoria, a D. Leonarda,
(matrona já fora de uso…)
cortou-lhe a luz da mansarda,
ao saber de tal «abuso» !...

Alheio a rasgos preversos,
dum mundo falso e maroto…
agora, faz os seus Versos
à luz velada de um coto !
Àquela morena em frente,
(que traja sempre de preto)
à dias, timidamente,
declarou-se num Soneto…

Ela, estranhando a missiva,
duma linguagem rara…
deu-lhe por resposta, altiva,
com a janela na cara !...

Pobre vate sonhador !
Seus Versos p’ra gente leiga,
não têm sequer valor
duma quarta de manteiga !...

Quando sai ao lusco fusco,
do beco sujo e acanhado,
murmuram logo em tom brusco:
«Olha, lá vai o tarado! …»

«Tarado» !... A expressão serena
do seu rosto se perturba
e se contrista de pena,
do riso ignóbil da turba !...

Lamenta, p’las noites frias,
quem de agasalhos precisa,
e ele, de três em três dias,
lava a sua única camisa…

Fatalidades não teme…
Foi sempre na vida afoito !...
Coitado… às vezes, só treme,
quando chega o dia oito !...

E é nessa altura, passível,
que faz esta interrogação:
- Qual será mais preferível,
ser Poeta…ou ser ladrão ?!...

E a Musa responde então:

« É sempre um mísero, acredita,
como a rasteira violeta…
quem teve a triste desdita…
de ter nascido… Poeta ! »

Luis - 2007-05-13

As Cantadeiras da Alma Alentejana nos Picnic Coros do Laranjeiro (Almada)



Organizado todos os anos pela Junta de Freguesia do Laranjeiro, este Encontro de Cante Picnic Coros no Laranjeiro, será este ano no dia 26 de Setembro, a partir das 15h, no Parque da Paz desta localidade (junto às bombas de gasolina no Laranjeiro).


Vão estar presentes os vários Grupos Corais e Instrumentais de Almada, em mais um encontro e convívio que por tradição é sempre muito animado.

As Cantadeiras nos Cânticos de Natal



Como o costume, o Grupo Coral Alentejano, «As Cantadeiras da Alma Alentejana», lá estarão a entoar algumas das tradicionais Modas Alentejanas:





1) Esteva dormindo acordei


2) Alentejo dos Trigais


3) Ai de mim tanta Laranja


4) Chegaste ao Alentejo


5) Que bonito não seria


6) Hino da Alma Alentejana

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

35º Aniv. do Grupo Coral da Brandoa (Amadora)



O Grupo Coral Alentejano da Brandoa (Amadora), comemora no próximo dia 26 Setembro (Sábado) o seu 35º Aniversário.

Este Grupo foi o primeiro Grupo Coral Alentejano criado na Região de Lisboa, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974.


Haverá um pequeno desfile dos Grupos convidados, pelas 16,30h seguindo-se a a sua actuação em palco, no auditório do Forum Luis de Camões, na Brandoa dos seguintes Grupos Corais Alentejanos:

- Grupo Coral Alentejano da Brandoa,

- Grupo Coral, “Os Alentejanos”, da Damaia;

- Grupo Coral, “As Margaridas”, de Peroguarda;

- Grupo Coral Alentejano de Tires, Cascais,

- Grupo Coral, “Os Trabalhadores”, de Montoito,

- Grupo Coral, “Os Ganhões”, de Castro Verde.

Coral Etnográfico «Os Amigos do Alentejo» na Casa do Alentejo em Lisboa


Integrado nas costumadas Tardes de Cante Alentejano que a Casa do Alentejo em Lisboa (Portas de Santo Antão) realiza todos os Sábados, onde costumam estar presentes na animação cultural vários Grupos Corais Alentejanos, vindos do Alentejo, chegou agora a vez dos Amigos do Alentejo do Clube Recreativo do Feijó (Almada), ali actuarem neste Sábado, 26 de Setembro, a partir das 15horas.


Mais uma tarde que se prevê muito animada e onde poderemos ouvir algumas das mais antigas e belas Modas Alentejanas, nas vozes de 22 elementos deste Grupo, todos oriundos das diversas terras do Alentejo.


A entrada é livre.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Templo romano de Beja é o maior achado no País


Escavações arqueológicas junto da Praça da República confirmam.

Foi encontrado em Beja o maior templo romano em Portugal.

O edifício, do século I da nossa era, está “completamente conservado” e é maior do que os templos romanos de Évora e de Conímbriga. Está soterrado no logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo, junto da Praça da República, onde decorrem escavações arqueológicas desde 1997 Foram achados também no local outros grandes edifícios do forum - a praça central - de Pax Julia, a Beja romana..

Segundo a especialista coordenadora deste trabalho, «esta fase da escavação vem na sequência de outros trabalhos arqueológicos que começaram no logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo, junto da Praça da República. As escavações decorrem no quadro de um protocolo entre a Câmara Municipal de Beja e o Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto, no sentido de se verificar exactamente a importância, a dimensão e o estado de conservação dos vestígios da praça central da cidade romana de Beja que encontrámos ali. As escavações começaram em 1997. Nesta fase, os trabalhos duraram cerca de três semanas, em Março e Abril, até à Páscoa, tendo participado uma dezena de estudantes de Arqueologia da Universidade de Coimbra.

Neste momento, é possível confirmar que o forum de Beja, em várias fases da época romana, existiu naquele espaço entre a Porta dos Prazeres, a Praça da República, a Rua da Moeda e a Rua dos Escudeiros. É possível confirmar isso. Achámos um dos templos que ali existiu. É um templo muito interessante porque é um tipo específico só da Península Ibérica e sobretudo do Sul, com um tanque a toda a volta. Existe um em Évora e outro em Ecija, perto de Sevilha. São os únicos até agora confirmados com tanques a toda a volta. Este de Beja parece semelhante ao de Ecija e estamos em contacto com os arqueólogos espanhóis para trocar informações. O templo de Beja é muito interessante mas é apenas um dos grandes edifícios que encontrámos na escavação. Há este grande edifício, que é o templo, sem dúvida nenhuma, com uma entrada virada para a Rua da Moeda, o que quer dizer que a cidade se expandia, pelo menos em boa parte, para o lado do Convento da Conceição, o que de alguma forma justifica todos aqueles achados que se conhecem desde o século XVI - era a acrópole da cidade. Mas há mais dois edifícios muito importantes, dois grandes edifícios, que não sabemos ainda exactamente o que são».

domingo, 20 de setembro de 2009

Ó Moinho Abandonado !


Ó moinho abandonado
Gigante de pedra e cal
Guardião das serranias
Venho-te aqui visitar
Porque sabes fui criado
Com o pão que tu moías

Já não tens velas nem nada
Estás sozinho sem ninguém
Estás todo desmantelado
Junto a ti querido moinho
Com a Santa de minha Mãe
Sabes bem que fui criado

O vento errante dançava
nos braços do meu moinho,
e o meu moinho cantava
porque não estava sozinho


« Ó vento vem-me contar
os segredos que me trazes
do Mundo, através do tempo »

E na dança com o moinho,
o vento errante cantava :

« De afectos desencontrados,
vi gente que se matava;
em terras que nunca viste,
crianças morrem de fome
míngua do que tu crias,
soluçam outros no escuro
por terem as mãos vazias,
e entregam-se a curto prazo
corpos eivados de cio...


PORQUE TE HEI-DE CONTAR
AQUILO QUE DEUS NÃO VIU ? »...


Eu sou carne e tu és pedra
mas somos da mesma terra,
ambos do mesmo lugar.
Já não te via há vinte anos
e com imensa saudade
te venho aqui visitar

Tenho estado na cidade
onde a vida é uma corrida
e passa ao lado da verdade.
Venho-te aqui visitar
ó moinho abandonado
porque és da minha idade

E o vento errante dançava
Nos braços do meu moinho
E o meu moinho cantava
Porque não estava sozinho


« Ó vento, vem-me contar
os segredos que me trazes
do Mundo, através do tempo »


E na dança com o moinho,
o vento errante cantava :
« Vi olhos que, cheios de ódio,
abraços petrificava :
vi posturas de impossíveis
em mãos de todos os dias;
Em terras que não conheces
de gente que nunca viste,
vende-se e compra-se de tudo,
honra, amor e dignidade,
beijos, passado, verdade !
Há tanta coisa esquecida,
tanta coisa abandonada,
que a alma marmorifica-se
numa escultura de frio.

PORQUE TE HEI-DE CONTAR
AQUILO QUE DEUS NÃO VIU ? »...

E o moinho descarnado,
já sem velas nas madeiras,
girava, rodopiado
de mil e uma maneiras !

«Endoideceu, coitadinho,
endoideceu o moinho ! »

Diziam as escusas aves
que pernoitavam no ar.


E o moinho endoidecido
continuava a girar,
sem vento, brisa ou razão,
continuava a cantar...

Hoje o moinho é sozinho,
mas ouve o vento dizer
enquanto roda a gemer,
todo de branco e vazio :

PORQUE QUISESTE SABER
AQUILO QUE DEUS NÃO VIU ?...


Há silêncio no teu corpo
( o moinho não tem gesto ).
Os teus olhos estão fechados
( há névoa a cobrir o mar ).
Respiras devagarinho
( o vento passa contente ).
As estrelas coniventes,
afastam-me o pensamento
quando eu me vejo nelas.
Mas de que serve haver vento...
se o moinho não tem velas ?...



Falripas da »Vida Viva»

Luis – 2000-12-07

Esboço Imperfeito


O silêncio leva em si a Tua voz,
como o ninho a música
de suas aves adormecidas!

Madeiro às costas, lá sobe
a ladeira do destino;
Seu peito é nave rangendo...
E o Seu coração, como um sino,
soa lá dentro batendo!

Como os Seus passos, no chão,
lembra o som das tempestades
O bater do Seu coração...

Madeiro às costas, lá trepa,
lutando contra a subida
e os abismos a vencer;
mais do que o peso da vida
- mais do que a dor de a não ter! -
Lhe
pesa a dura indiferença
de quem passa sem
O ver!


A Seu lado sobem outros,
num cortejo singular:
cruz aos ombros; e nos peitos
onde há noites sem luar
e que são naves rangendo,
ouvem-se sinos a dobrar...
Corações que vão batendo!

E os sinos que vão dobrando
choram a luz que anda ausente
dos peitos que vão trepando...
Sobe mais... e a dura carga
fere-Lhe os ombros dormentes:
Tem sede, - que sede imensa! -
de água pura das nascentes,
da Verdade, e da presença
dos dias que já passaram
com Seus sonhos inocentes
que, como as fontes, secaram!

A Seu lado vão subindo
outros vultos desolados:
sob o vento do Destino
são como vimes dobrados...

E em cada peito rangendo,
O Seu coração, como um sino,
lá vai dobrando a finados,
lá vai subindo e batendo!...

Enche-Lhe o Sol o caminho
e a Terra, farta, sorri...
Que importa?
Foge-Lhe tudo...
e é noite dentro de Si!




Falripas de Meditação - Volume 3


Luis - 2002-12-02

Gratidão de Um Pássaro


Cantarei para sempre o amor de Javé,
anunciarei de geração em geração
a tua fidelidade

Salmo 89, Vers. 2


O quinteiro da Chaniça Nova (Baixo Alentejo), Sr. Manuel Pedro, ouviu que, das bandas do tanque da quinta, vinha o piar angustioso de um passarito, a pedir socorro. Aproximou-se rapidamente. Um pequeno picanço revolvia-se na água e o bater convulso das suas asas, mais o aproximava da morte. O Sr. Manuel Pedro deitou-lhe as mãos e salvou-o.
A avezita, ainda atordoada, espanejou, alguns momentos, ao sol quente, pipilou uns trilos de alegria e, levantando voo, foi à sua vida...

O Sr. Manuel Pedro esqueceu o caso. Mas o pássaro é que não!...

Passado algum tempo estava o quinteiro entregue à sua faina de cavar o meloal, surgiu o picanço, a saltitar-lhe em volta, pousando-lhe ora num braço ora no outro e na cabeça, e procurando-lhe as mãos, como se quisesse beijá-las. E nunca mais deixou o seu salvador.
Todos os dias, o dia inteiro, anda ali perto. De vez em quando, engole, nas mãos do seu benfeitor, um gafanhotozito ou debica alguns bagos de cereal. Entra em casa, como se pertencesse à família, percorre os aposentos, saúda quem encontra no caminho, vai passear e depois volta...

Mais curioso ainda, é que os irmãos do picanço não vêem com bons olhos tais manifestações de amizade, e procuram afastá-lo, perseguindo-o à bicada. Levam-no para longe.

De nada serve, porém, a intransigência dos da sua espécie, porque o passarito, mal se liberta da perseguição, corre para casa daquele que o salvou da morte!...



(De um fragmento de Jornal antigo)

Contos

Luis – 2002-11-26

EDIA limpa a albufeira de Alvito


A empresa gestora do Alqueva detectou, durante um esvaziamento parcial da albufeira de Alvito, materiais que poderiam afectar a qualidade da água usada para regar e abastecer cinco concelhos.


A limpeza da albufeira, deverá estar concluída no final deste mês, tem como objectivo minimizar os factores que contribuem para a degradação da qualidade da água, usada para regar e abastecer as populações dos concelhos de Portel, Cuba, Alvito, Viana do Alentejo e Vidigueira.


“É um passo importante na defesa da qualidade da água que circula em todo o sistema de Alqueva”, refere a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva.

EDIA lidera candidatura de 1,2 milhões de euros para conservação do Lince-ibérico


O projecto luso espanhol visa desenvolver as condições de habitat do Lince-ibérico em zonas do Alentejo e Algarve.


O Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha Portugal (POCTEP) aprovou a candidatura IBERLINX - Acção Territorial Transfronteiriça de Conservação do Lince-ibérico, liderada pela EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva, em estreita parceria com a empresa Águas do Algarve, a Junta da Andalucia e com o município espanhol de Valência del Mombuey.


O projecto agora aprovado, com um orçamento global superior a 1,2 milhões de euros, visa garantir as condições de gestão e controlo efectivo de territórios com habitat potencial para o Lince-ibérico, no universo das áreas existentes definidas pelo Plano de Acção para a Conservação do Lince-ibérico em Portugal (PACLIP), nos sítios de interesse comunitário de Moura Barrancos e Monchique.


É a essa tarefa que se dirige a parceria e o projecto IBERLINX, contando com parceiros que gerem já mais de 6000 ha e que reúnem capacidades técnicas relevantes para cumprir o objectivo proposto.
A área de intervenção do IBERLINX, contempla o Parque de Natureza de Noudar, propriedade da EDIA e territórios adjacentes sob gestão do Ayuntamiento de Valência del Mombuey, a Herdade das Santinhas com o Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico, propriedade da empresa Águas do Algarve e ainda territórios sob gestão de privados, associações de produtores florestais e municípios.
O carácter transfronteiriço deste Projecto apoia-se na área de distribuição natural do Lince-ibérico, que levou os governos português e espanhol a assinarem a 31 de Agosto de 2007 o “Acordo de Cooperação entre a República Portuguesa e o Reino de Espanha relativo ao Programa de Reprodução em Cativeiro do Lince-ibérico”. A ameaça de extinção de um dos mais emblemáticos felinos europeus levou as autoridades nacionais e espanholas a considerarem que apenas um esforço e programa conjuntos poderão debelar esta ameaça.


Para dar cumprimento aos acordos acima referidos importou congregar parceiros públicos com responsabilidades nesta área e com capacidade técnica, científica e financeira para intervir. Pela ocorrência natural do lince em terras de fronteira do Alentejo e Algarve com a Extremadura e Andalucia, pelos projectos que já se encontram em desenvolvimento de forma individual pelos parceiros, pela possibilidade de utilizar terrenos sobre gestão públicos de dimensão considerável, bem como pelas dificuldades técnico-científicas do tema em questão, a EDIA SA, a Águas do Algarve SA, a Junta da Andalucia e o Ayuntamiento de Valência del Mombuey, decidiram reforçar o trabalho que têm vindo a desenvolver de forma isolada, considerando que só um trabalho conjunto, a nível supranacional, produzirá efeitos quantificáveis e duradouros.


A colaboração conjunta de entidades com este nível de intervenção sobre o território, em Portugal e Espanha, nunca tinha sido encetada na procura de soluções credíveis e duradouras na questão da cria e reintrodução do Lince-ibérico.


O Lince-ibérico, é a espécie de felino mais gravemente ameaçada de extinção e um dos mamíferos mais ameaçados. Estima-se que existem cerca de cem linces ibérico em liberdade em toda a Península Ibérica.

Alqueva - Associação para a defesa dos Projectos


A Associação de Promotores do Alqueva (APA) pretende promover o potencial turístico e económico da região do Alqueva.


A APA tem como presidente da Assembleia-Geral o empresário José Roquette e representa os promotores dos projectos da Herdade do Barrocal/Aquapura, Herdade do Mercador/Grupo Sousa Cunhal, Fortaleza de Juromenha/J7 S.A., Quinta da Sanfana, Marina da Amieira e Parque Alqueva/SAIP.


Os promotores da associação destacam o investimento de dois mil milhões de euros na região do Alqueva e a criação de 2500 postos de trabalho directos e mais de seis mil indirectos.

2º Dia da Oficina de Violas de Arame


Integrado no evento «Sete Sóis, Sete Luas» ocorrido recentemente em Castro Verde, teve lugar o 2º Dia da «Oficina de Violas de Arame» (ver artigos anteriores sobre este assunto). Abaixo apresentamos um «extracto» tirado dos nossos prezados amigos do Blog alentejano da região, onde poderão ver outros detalhes:




- No segundo dia da Oficina, voltei à velha sala da "Fábrica".Voltaram os dois tocadores insulares a enriquecer o nosso conhecimento, com mais detalhes sobre as suas violas, e a sua arte. Seguiu-se a primeira apresentação do tocador José Barros a "defender" a sua viola, a braguesa.

Neste segundo dia, houve maior diálogo com a sala, com oportunas intervenções do Prof. Domingos Morais, que ajudaram a preencher lacunas do conhecimento no que concerne às violas.

Ficámos a saber que a viola braguesa é um instrumento popular do noroeste português entre o Douro e o Minho, sendo indispensável nas rusgas minhotas, nas chulas e desafios, as formas músico-instrumentais dominantes na região.

José Barros defendeu com veemência e muito humor a "superioridade" da braguesa face às irmãs presentes (risos) , demonstrando na execução que com a braguesa se toca tudo o que existe e o que se quiser.

Tal como na tarde do dia anterior, chegou depois a apetecida roda de tocadores, soltaram-se os talentos e no ambiente familiar com que sempre decorreu a "Oficina", aconteceu uma verdadeira «festa dos sentidos».

http://www.youtube.com/watch?v=oNsrzNAm8iQ&feature=player_embedded

http://www.youtube.com/watch?v=XsYy7TE0Gd4&feature=player_embedded

No final dessa tarde , os quatro magníficos tocadores das quatro violas actuaram no Jardim do Padrão, num evento do qual falarei posteriormente.

No ultimo dia, os dois tocadores das ilhas e o José Barros concluíram as suas intervenções com brilho , e ainda maior virtuosismo.

O Rafael diria no final da sua intervenção que ainda não tinha partido e já tinha saudades de Castro Verde, e disse-o com emoção.

Também eu, no decorrer da parte final da roda de tocadores, que como habitualmente se seguiu ,me apercebi , já ter saudades daqueles momentos mágicos que naquela sala passei, a ouvir os magos da viola de arame.

http://www.youtube.com/watch?v=LHPiReQrmAo&feature=player_embedded


Têm de voltar. Prometam!

A Cruz Preferida


Uma antiga lenda alemã fala de um homem que jornadeava pela vida ao peso de enorme cruz de ferro. Uma noite orou fervorosamente para que a sua cruz de ferro fosse substituída por uma de rosas. Estava certo de que seria muito mais agradável levar uma cruz de rosas do que a pesada cruz de ferro.
Ao acordar, na manhã seguinte, encontrou presa aos ombros uma cruz de rosas, e assim reiniciou a sua jornada com grande alívio. Quão mais agradável era a fragrância das rosas do que o torturante peso do ferro ! Mas, em breve, reconheceu que com as rosas que levava iam também alguns espinhos; e antes de ter caminhado muito, estes começaram a ferir-lhe desapiedadamente a carne.
Ainda não descera a noite e já o sangue lhe corria por todo o corpo, onde quer que lhe tivessem penetrado os espinhos. Incapaz de prosseguir com seu cruel fardo, orou outra vez:

«Ó Senhor, vejo que não posso carregar uma cruz de rosas. É pior do que a cruz de ferro; mas concede, em tua infinita bondade, que me seja dada uma cruz de ouro para carregar. Estou certo que a poderei levar com facilidade.»
Algumas horas depois, ao despertar, verificou que a sua oração havia sido, novamente, atendida, e com desembaraço pôs-se a caminho, levando a preciosa cruz a brilhar sob os raios do Sol.
Mas não havia andado muito, quando foi atacado pelos ladrões que o assaltaram e o espancaram. Tiraram-lhe a cruz de ouro, deixando-o quase morto à beira da estrada.
Quando, depois de muitas horas, recuperou os sentidos, proferiu uma angustiada oração:
« Misericórdia Pai, dai-me de novo a minha cruz de ferro ! Agora compreendo que esta é a única que posso carregar !»


Assim se dá na vida. Não nos conformamos com a nossa sorte e julgamos sempre que, para os outros, a vida é leve, suave e sem contrariedades. Puro engano !


A cruz de rosas está repleta de espinhos; a cruz de oiro atrai a cobiça dos invejosos e a perfídia dos maus. Se te negares a uma cruz, acharás certamente outra e, mais pesada.

Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio; e tu queres que a tua seja descanso e alegria ?



Falripas da Minha Catequese – Volume 1

Luis – 2001-01-16

A Ponte dos Mentirosos



- Alguns não ouvem – não desejam ouvir – senão as
palavras que têm na cabeça. –

Josemaria Escrivá

A criança não é uma miniatura... Não ! É uma pessoa, como tal perfeita, a totalizar na sua humanidade pequena tudo o que pertence ao homem, mesmo a inteligência que se conhece em potência e em saídas raras e que, com o tempo se desenvolve até ao pleno funcionamento. Uma consequência derivante do instinto de defesa da criança é a mentira. Qual de vós é mentiroso ? Não basta os pais corrigirem os filhos mentirosos; seria bom dar-lhes uma lição frisante a esse respeito, como aconteceu no caso interessante que de seguida vos vou contar:

Era uma vez... um menino chamado Luis.
Luis é mentiroso. Feio defeito ! Como conseguirá o pai fazê-lo reconhecer que mentiu flagrantemente, primeiro passo para o corrigir ?
Um dia o Luis diz:
- Ó pai, sempre há cães que são enormes ! Eu ontem vi um cão que era do tamanho de um burro grande...
- Tens a certeza disso, Luis ?- Olha, eu vou à cidade. Queres vir?
Foram. A certa altura, o pai apontou ao filho uma ponte que se via ao longe.
- Luis, vês aquela ponte ? Quem me diz a mim que não é aquela a ponte do alçapão dos mentirosos ?!
- Que é isso
pai ?
- É uma ponte que, quando lá passa algum mentiroso, abre-se, debaixo dele um alçapão e cai ao rio...
O rapaz fica impressionado a matutar...
- Sabe, pai, o cão que eu vi ontem era do tamanho de um burro pequeno...
Deram mais uns passos: o rapaz tremia à aproximação da ponte.
-Olhe, pai,o tal cão não era como um burro, era só um cão grande.
Já chegaram à entrada da ponte: o rapaz pára, hesita...
- Vou dizer-lhe tudo, pai: eu ontem não vi cão nenhum especial...
- Está bem meu filho, mas já viste como é feio mentir ? Não tornes a mentir nunca. Os mentirosos, ainda que não caiam desta ponte, arriscam-se a cair da ponte que nos deve ligar ao Céu.





Falripas da Minha Catequese – Volume 1

Luis – 2001-04-12

Companheiros...





Realidade ? Sonho ?
Não sei. Jamais atino.
Caprichos do destino...
Quanta verdade eu ponho
naquilo que imagino !?...


Todos os alentejanos sabem que o Pego da Matinha é uma espécie de Judas iscariote de face lisa e amável, que vende e atraiçoa o primeiro. Lençol de águas paradas, bordado de folhas verdes de trevo, fica a dois passos do povo, entalado na mata de eucaliptos, à ilharga do córrego que desce das bandas de Espanha. Ávido e apressado, engole tudo que tenha a imprudência de lhe tocar os bordos – seja pedra que venha a resvalar e a cair, cerro abaixo, seja passo de homem ou bicho mal avisados.
Por isso, quando os filhos saem para a estrada em carreira, a sacola de pano com os livros da escola atirada sobre o ombro, o calcanhar, célere,
a bater o rabo dos calções, as mães vêm à soleira da porta esganiçar a voz num último aviso: « E não passes ao Pego da Matinha. Anda-me de largo, ouvis-te ? »
Contam-se coisas... Do almocreve bêbado que de regresso da feira de Beja lá se foi atascar, levando o burro manso bem atado ao pulso pela arreata; da moça da herdade, neta do porqueiro, que estava à espera dum filho sem pai e lá foi achar no buraco do pego esquecimento para a sua vergonha.
As mulheres benzem-se quando têm de passar-lhe perto, os homens descobrem as cabeças. Mas os moços... a esses parece que os atrai ali voz de sereia, chamando-os das profundezas turvas e limosas. Que talvez seja o próprio aviso rabugento a espicaçar-lhe o desejo de afirmarem uma
independência de pássaro solto no ar : « Não passes ao Pego da Matinha, entendido ? »
A verdade, verdade – é que o pego, largo e espelhado como um rio de águas paradas, é um coalho de rãs, peixes cabeçudos e até de enguias, que lhe trespassam o dorso de súbitos, ziguezagueantes arrepios. E, no Verão, quando o sol cai a pino sobre o mundo esbraseado, fazendo estalar a casca dura das árvores, e coze o coração das próprias aves que tombam do céu de asas retesas e bico entreaberto, o sítio, fechado na cerca rumorosa do eucaliptal, torna-se abençoado túnel de sombra e de frescura.

Porque a tarde era das tais, com um sol de lume vivo a arder no céu, impiedoso, o João e o Manuel tinham de comum acordo resolvido fazer feriado e não pôr os pés na escola. O corpo, alagado em suor, pedia-lhes descanso e fresquidão.
- E se fossemos ao Pego da Matinha ? – lembrou o Manuel – Batíamos lá uma rica sesta. Íamos depois à caça das rãs...
As boas ideias são tão raras que há que as agarrar em ambas as mãos como pássaros fugidios. Foi o que fez o João, pondo-se logo a trotar ao lado do companheiro, estrada fora. Encharcado de sol, o campo abria-se-lhes pela frente, estático e abrasado. O trigo não vira ainda gume de foice e as espigas, pejadas de grão, grossas e cor de ouro, vergavam para o solo as hastes humilhadas. Vasta arca de pão, a planície ali estava, generosa e aberta, à espera de quem quisesse colher-lhe a fartura.
Em quatro passadas, viram-se a pisar as terras secas, esboroadas do ferragial... Daí a alcançarem a mata de eucaliptos, era um salto de coelho. Ainda que o vento descansasse, a viola no saco e o rabo assentado no chão, fosse para as bandas do povo, da charneca ou do montado, ali, murmurava quase sempre uma brisa muito fina, sopro de folhagem ou bater de asas, quem sabe se a respiração presa do próprio rio.
Já de longe, o Manuel atirou pelos ares a sacola de livros que foi embater no tronco de uma árvore com um baque surdo de pinha madura a escachar-se no chão.
- Vamos às rãs ? – propôs.
- E a sesta ? – perguntou o João, afogueado, com grossas gotas de suor a escorrerem-lhe pelo rosto trigueiro.
- Tem tempo!
Descalçaram as botas e as meias listradas e foram, cautelosamente, pisar as margens fofas, avivadas de verdura, do charco adormecido. Uma frescura perfumada de loendro, colou-se-lhes às pernas espalhando-se depois por todo o corpo suado. Pusera-se logo à cata das rãs. Contornaram o pego, silenciosos, na ponta dos pés nus e aproximaram-se da extremidade do córrego tecido de juncos e mentastros onde apontavam, verdoengas e achatadas, como que adormecidas, as cabeças das rãs. Era preciso muita manha, que os estafermos pareciam ter olhos e ouvidos abertos por todo o corpo – mal uma pessoa dava um passo e ia mergulhar a mão na poça, aí voava uma para logo desaparecer, adiante, na fundura do charco. À superfície, a água ficava por momentos a abrir pequenos círculos que eram outros tantos sorrisos silenciosos e trocistas naquela face lisa. Sempre dava uma destas raivas !

Apenas pressentiam, de facto, a lenta aproximação, como se respirassem na aragem da tarde o cheiro excitante do perigo, começavam elas a mover-se e a altear as cabeças onde os olhos apontavam estoirados e fixos.

E ainda mal os rapazes, curvados pelos rins, a deslizarem sem ruído, estendiam o braço, já elas, avisadas pelo demo ou pelas bruxas, formavam o salto, umas atrás das outras, das margens para o lago: Chape ! Chape ! Pareciam carneiros, de inchadas. Mas levezinhas e ágeis, que ninguém diria, subiam ao ar, espalmadas, de pernas abertas, como se lhes tivesse soltado uma mola sob a barriga.
Estupores ! – exclamou Manuel que se pôs a arremessar para a água, raivoso, quantas pedras encontrou debaixo dos pés.
- É deixá-las. Vou-me mas é à sesta – disse o outro.
O corpo, entorpecido de calor, exigia-lhe descanso. Mas Manuel, magro e nervoso, com um focinho inquieto de bicho-furão, contrapôs logo, já desinteressado da caçada:
- Qual sesta ! Tomamos primeiro banho – dormimos depois. Que dizes ?
Já taciturno no modo e tardo na fala, não sentia João correr-lhe o sangue nas veias com o ímpeto imprudente de Manuel. E lembrou:
- Dizem que é perigoso.
- Histórias da carochinha para contar à lareira. Anda embora !
Desapertaram os cintos, tiraram as roupas e entraram nas águas escuras do pego.
Sentiram logo o chão de lodo aluir, silenciosamente, sob os pés que procuravam em vão a firmeza de um apoio. Ao mesmo tempo, toda aquela aparente tranquilidade fendia e estilhaçava: em voos precipitados, aflorando à superfície quebrada, insectos esquisitos, de longas pernas, vinham embater-lhes no corpo; um rato de água emergiu a cabeçorra escura e viva para logo mergulhar assustado. Passou depois, ziguezagueando, o vulto delgado, de uma cobra. Borbulhas de ar vinham a espaços do fundo, rebentavam ao de cima, formadas por lábios misteriosos, de afogados talvez, presos nas profundezas do lodo.
João parou, indeciso, com a água pelo joelho, a pele arrepiada e os sentidos alertados. O pego metia-lhe medo.
Manuel, porém, era feito de outra massa, levedava de rompante, com uma força selvagem, que o impelia cegamente para os espaços abertos sobre qualquer abismo que, imprudente, se recusava depois a medir. Descobrira que tinha asas e queria experimentar-lhes o poder, fosse qual fosse a largueza do horizonte que pretendia conquistar.
De longe, palpou a tibieza do amigo e lançou-lhe a pedrada do riso escarninho:
- Tens medo de molhar o cu, João ?
E, sem esperar resposta, voltou-lhe as costas e fez-se ao largo.
Mas o Pego da Matinha não gosta que lhe quebrem a paz: tem os seus segredos e guarda-os bem guardados nas profundezas soturnas...

A quem se afoita a sondar-lhe os mistérios abre-lhe os braços traiçoeiros, enleia-o suavemente até o puxar de vez fechando-o nas grades naturais de juncos e folhas apodrecidas que lhe forram as paredes.
Quando o Manuel, tarde demais, sentiu que o pego o tinha prisioneiro, gritou pelo João. Foi um grito estarrecido, a vara de surpresa a tranquilidade da tarde.
Pregado às margens do charco, o sangue coalhado nas veias, João era uma estátua de pedra. Quis gritar-lhe que sim, que esperasse, ia acudir-lhe de um salto – mas a garganta cerrou-se-lhe, o medo tolheu-o e, de vontade quebrada, ficou-se a ver o companheiro esbracejar, rouquejando não entendia que angustiado apelo. Por fim apenas ficou de fora um braço que se agitava, que continuava a chamar, que se imobilizou de súbito para acabar por desaparecer também.
Muito tempo depois de tudo consumado, ainda ele ali estava de pé, imóvel, e como que alheado – nuzinho em pelo e todo transido apesar do bafo quente da tarde.
O caminho de regresso, depois, pareceu-lhe longo e estirado, traçado sobre o gume de pedras ou línguas de fogo. E sempre aquele braço fora do lençol escuro das águas, em frente dos olhos, a pedir-lhe socorro, a acenar. Afigurava-se-lhe que, houvesse ele vencido o medo, houvesse ele acorrido como lhe imploravam e o pego não teria levado a melhor. Comprimia os punhos cerrados nos bolsos dos calções, fincava as unhas raivosamente nas palmas das mãos:



« Se não tivesse tido medo... Se não tivesse tido medo...» repetia-lhe em torvelinho o pensamento.
Quando entrou em casa, a mãe não lhe estranhou o silêncio nem a cara fechada. Viu-o vaguear do quarto para a cozinha e da cozinha para o pátio, cozido com a própria sombra – mas não fez caso. De súbito, porém, ei-lo que dispara direito à loja que servia de arrecadação. Saiu de lá com o baraço de corda que usavam para atar a cabra ao tronco da oliveira, atirado ao ombro e apontou outra vez à estrada. A mãe ainda veio à soleira da porta, mais surpreendida do que zangada:
- Ó João !
Mas já o filho ia longe, o velhaco, sapateando o asfalto numa pressa desenfreada.

Se lhe tivessem crescido asas nos ombros, não voaria com tanta rapidez até pousar sem alento, alagado em suor, nas bordas traiçoeiras do charco. O que contava é que estava de regresso, não podia faltar à voz que continuava a chamar por ele, insistentemente – podia lá ! Vencera o receio, deitara-lhe as unhas ao corpo sinuoso, de cobra, e que o enlaçara todo ainda há pouco, a ponto de lhe atar os movimentos. Mas aí estava de volta, aí estava para acudir ao Manuel.

E, sem mesmo descalçar as botas, todo vestido ainda, entrou afoito, de corpo inteiro, na fundura do charco. Tinha ligado ao pulso, com um nó firme, a extremidade da corda. Na outra ponta atara o peso de uma pedra.
- Eh ! Manuel ! – chamou.
« Manueeeel... » - respondeu-lhe o eco, a fazer ricochete, a saltar como um seixo arremessado sobre a superfície quieta das águas.
Assustado, um pássaro de plumagem escura saiu atarantadamente de um novelo de moitas, ganhou forças nas asas e esvoaçou sobre o pego como uma sombra de mau agouro.
- Eh ! Manuel ! – tornou ele a chamar, mais alto, já com a água para cima da cintura.
Calculou a distância a que o braço continuava a chamar fora daquela mortalha de águas paradas e arremessou a corda pelo ar, com força.

Do alto do caminho que descia estreitando em funil apertado entre a mata de eucaliptos, um homem de regresso a casa, terminada a faina do dia, deparou, intrigado, com as estranhas andanças. Tinha já pelos brancos nas barbas, que lhe testemunhavam largos anos de duras experiências, agarrado como um boi pacienta à canga pesada da terra. Sabia coisas – umas de ver com os próprios olhos desencantados que a vida lhe abrira, outras de ouvir contar aos mais velhos do que ele. Por isso não ignorava que o Pego da Matinha era uma cama de limos onde quem quer que nela se deitasse dificilmente de lá sairia. Pôs as mãos em concha e lançou o aviso:
- Eh ! Volta para trás, moço !
De nada serviu. João tinha os ouvidos e os olhos fechados para todos os sinais que lhe viessem do mundo. Via apenas à sua frente, obsessionantemente, o aceno angustioso a clamar auxílio. E foi avançando sempre, estendendo a corda, chegando-lhe o tardio socorro.
O homem deitou então a correr pelo carreiro abaixo. As pedras soltas sob as cardas das botas rolavam-lhe à frente, embaraçavam-lhe o passo, faziam-no tropeçar agora e logo. Se ainda chegasse a tempo ! Se pudesse ainda deitar o garfo das unhas àquele doido varrido ! Mas já um brado de angústia rasgava os ares, ferindo-lhe os sentidos:
- Manuel !
Correu mais depressa, caiu de joelhos, levantou-se e venceu afinal os últimos metros que o separavam do córrego.
Lá em baixo, porém, apanhou-o logo um grande e gélido silêncio. Tão grande tranquilidade era de estarrecer: - nem voo de asa ou sussurro de folha. Tudo quieto e suspenso como se o espanto ou o medo houvessem tolhido, ali, e nessa hora extrema, a própria Natureza.

***********************

Sereno, o Pego da Matinha espelhava o céu já tinto do sangue de um sol moribundo. Face lisa e amável de Judas iscariote.

E de súbito, das poças verdes, entretecidas de juncos e mentastros, rompeu um coro profundo e gutural : eram as rãs , soturnas, a entoar livremente o seu cante... parecendo soar:

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão mesmo vencida,
não deixa de ser razão.


Que importa perder a vida
ainda que em tenra idade,
quando a amizade é sentida
e mais forte que a saudade!...





Falripas do Destino – Volume 1

Luis - 2001-05-23

O Messias



«Quando me lembro de Ti, no meu leito,
passo vigílias a meditar em Ti,
pois Tu foste um socorro para mim,
e, à sombra das Tuas asas, eu grito de alegria!»

Salmo 63:7,8



O Guru (chefe religioso indiano) que se encontrava a meditar na sua cova do Himalaia, abriu os olhos e descobriu, sentado na sua frente, um inesperado visitante: o abade de um célebre mosteiro.
«Que desejas?» - perguntou-lhe o Guru.
O abade contou-lhe então uma triste história: Noutros tempos, o seu mosteiro tinha sido famoso em todo o mundo ocidental; as suas celas estavam cheias de jovens noviços, e na sua igreja ressoava o harmonioso canto dos seus monges. Mas tinham chegado maus tempos: o povo já não acudia ao mosteiro em busca de alimento para o seu espírito; a avalancha de jovens candidatos havia cessado e a igreja achava-se silenciosa. Só restavam uns poucos de monges, que cumpriam triste e rotineiramente as suas obrigações. O que o abade queria saber era o seguinte:
«Teremos cometido algum pecado, para que o mosteiro se veja nesta situação?»

«Sim» - respondeu o Guru - «um pecado de ignorância».
«E que pecado foi esse?»
«Um de vós é O Messias disfarçado e vós não sabeis». E dito isto, o Guru fechou os olhos e voltou à sua meditação.

Durante a penosa viagem de regresso ao seu mosteiro, o abade sentia como o seu coração palpitava ao pensar que O Messias, o mesmíssimo Messias, tinha voltado à Terra e tinha ido parar precisamente ao seu mosteiro! Como não tinha ele sido capaz de o reconhecer? E quem poderia ser? Acaso o irmão cozinheiro? O irmão sacristão? O irmão administrador? Ou seria ele, o irmão prior? Não, ele não! Por desgraça, ele tinha demasiados defeitos...

Mas a verdade é que o Guru tinha falado de um Messias «disfarçado». Não seriam aqueles defeitos parte do seu disfarce?...
Bem visto, todos no mosteiro tinham defeitos... e um deles tinha que ser O Messias!
Quando chegou ao mosteiro, reuniu os monges e contou-lhes o que tinha averiguado. Os monges olhavam incrédulos uns para os outros: O Messias... aqui? Inacreditável! Claro que, se estava disfarçado... então, talvez... Poderia ser fulano...? Sicrano...? ou Beltrano...?
Uma coisa era certa: se O Messias estava ali disfarçado, não era provável que o pudessem reconhecer. De modo que começaram todos a tratar-se bem, com respeito e consideração.
«Nunca se sabe!» - pensava cada um para si, quando tratava com outro monge. «Talvez seja este...»


O resultado foi que o mosteiro recuperou o seu antigo ambiente de harmonia e alegria transbordante. Depressa voltaram a acudir dezenas de candidatos a pedir para serem admitidos na Ordem, e na igreja voltou a ouvir-se o canto jubiloso dos monges, radiantes do espírito de Amor.





Falripas de Meditação – Volume 2

Luis – 2002-11-16

sábado, 19 de setembro de 2009

Oficina de Violas de Arame no Programa «Sete Sóis» em Castro Verde


A matéria da crónica de hoje sobre os "Sete Sóis" versa sobre, o que foi para mim, o evento mais conseguido, mais completo, mais eficaz, do ponto de vista das consequências para o futuro, que foi o Encontro de violas de arame, ou a designação escolhida para o Programa dos "Sete Sóis", o de "Oficina de Violas de Arame".

A viola portuguesa chegou aos nossos dias sob várias designações, tais como: Braguesa, Ramaldeira, Amarantina, Toeira, de Arame, da Terra, Campaniça e até mesmo a Caipira de Minas Gerais.
A Oficina de Violas decorreu na Antiga Fábrica de Moagem Prazeres e Irmão, durante 3 dias, numa organização da Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções Culturais integrado na Programação dos Sete Sóis.

Na pequena sala da "Fábrica", juntaram-se, nada mais,nada menos, que os maiores tocadores de viola "strictu sensu", seja de arame, braguesa, campaniça, da terra e caipira.

Naqueles pequenos metros quadrados da antiga fábrica de moagem em Castro Verde, tivemos juntos a tocar e a trocar ideias, virtuosidades e dicas para o futuro, tocadores como: Mestre Manuel Bento, Pedro Mestre, Amilcar Martins da Silva e Márcio Isidro pela viola campaniça alentejana, Vitor Sardinha pela viola de arame madeirense; Rafael Costa Carvalho pela viola da Terra dos Açores e José Barros pela viola Braguesa de Braga.

A metodologia escolhida para o evento, foi a de estender pelos 3 dias a exposição oral e execução prática nas suas violas ,dos tocadores das 4 violas em análise.
Assim, no primeiro dia assistimos à exposição oral dos dois tocadores que vieram das ilhas:
O Rafael Costa Carvalho dos Açores , e o Vitor Sardinha da Madeira.
O primeiro foi o Rafael, que nos falou sobre a Viola da Terra, contando a sua história, descrevendo a sua composição física, explicando a simbologia das suas
marcas e adereços, enquanto dedilhava exemplificando as técnicas de execução.Ficámos a saber que a Viola da Terra terá surgido nos Açores na segunda metade do século XV, levada pelos primeiros povoadores. A Viola da Terra que também é conhecida por Viola de Arame, ou Viola dos Dois Corações, era, e é, acompanhante natural de todos os cantares festivos, «balhos», derriços, desgarradas, desafios e despiques, e também dos devaneios sentimentais, líricos e amorosos.Por entre risos o Rafael esclareceu ainda que a viola da terra tem um espelho embutido entre a cabeça e a escala, que , explicou, deriva da vaidade dos tocadores açorianos, que quando se ausentavam de casa para tocar em festas e «balhos» pernoitando fora, utilizavam o espelho para se barbearem.
De palavra fácil, discurso escorreito, o Rafael foi explicando que os 2 corações que configuram a boca da viola da terra, simbolizam a saudade do coração que parte, que emigra e a saudade do coração que fica. Os dois corações estão ligados por um cordão umbilical a uma lágrima, a lágrima da saudade. A lágrima tem a forma de um ás de oiros que representa a busca da fortuna, afinal, o objectivo dos emigrantes .
Ao entrar na fase da execução, o Rafael salientou aquilo que faz a principal diferença na técnica utilizada pelos tocadores açorianos - a utilização do polegar - tocando alguns trechos com grande virtuosismo, arrancando os aplausos conhecedores da sala. (ver fazendo click no Link que se segue): http://www.youtube.com/watch?v=EUgZejTjiLU&feature=player_embedded

O segundo tocador da tarde do primeiro dia foi o madeirense Vitor Sardinha, que nos veio apresentar a Viola de Arame.
A Viola de Arame é a viola da Ilha da Madeira.Tal como o Rafael, o Vitor Sardinha é também professor de viola, no Conservatório de Música da Madeira, e por isso também habituado a falar em público, revelando-se também , um grande comunicador.

Vitor Sardinha esmiuçou também a sua viola, integrando-a no grupo mais lato da viola portuguesa.Instrumento com 9 cordas, com uma afinação do agudo para o grave na sequência ré-si.sol.ré.sol.
Salientou a importância da localização geográfica da Ilha da Madeira, com o seu porto Atlântico e a emigração insular a influenciar decisivamente o toque, os sons e o timbre da viola de arame madeirense.Mais perto de África e das Canárias do que do Continente, do qual esteve aliás longe, aquando da ocupação inglesa, e com uma forte ligação marítima com o Brasil, e Cabo Verde, a viola madeirense bebeu muito das influências tropicais e africanas.Ficámos ainda a saber que a viola de arame madeirense é o instrumento predilecto para acompanhar as charambas, as mouriscas, o bailinho e o baile da meia volta, este último do Porto Santo.E Vitor Sardinha passou à execução igualmente virtuosa e dialogante que a todos prendeu, arrancando os aplausos entusiasmados da sala. (ver fazendo click no Link que se segue):
http://www.youtube.com/watch?v=p_NB4wlygCA&feature=player_embedded


No final, do dia, os presentes foram convidados a empunhar as suas violas, e numa roda de tocadores, onde além dos quatro conferencistas figuravam mestres como Manuel Bento, Amilcar Martins da Silva, Marcio Isidro e outros.
Foi um momento alto da tarde. (ver fazendo click ni Link que se segue):
http://www.youtube.com/watch?v=ZYqmG8n1AjU&feature=player_embedded
Nota: este registo, que se refere ao 1º Dia da «Oficina de Violas de Arame» integrado no evento «Sete Sóis, Sete Luas» que decorreu recentemente em Castro Verde, foi amavelmente cedido pelo Blog http://casa-das-primas.blogspot.com/
onde poderão ver uma «reportagem» muito mais detalhada deste brilhante evento que animou nestes dias esta localidade.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Asas nos pés...


Quando entrou na aula, os pequenos, de pé, junto às carteiras envernizadas, deram os bons dias, em coro, mas sem o ar festivo de outros tempos.
- Podem sentar-se.
Houve um cicio apenas. Aprumadas nos bancos, as crianças ficaram hirtas, atentas, de olhos postos no estrado alto.
Entrava, pelas janelas, o perfume doce dos campos. Sentia-se, ao longe, a sinfonia metálica de um engenho e, perto, no beiral da casa, chilreavam andorinhas, num cortejo frenético e azul.
O professor encarou os alunos.
Na primeira fila, lá estava o Luis, o mais turbulento da classe.
Ia dar a última aula.
Recebera, dias antes, como sentença de morte, a comunicação. Uma comunicação breve, delicada, clara, mas irrevogável. Chegara ao cabo duma longa carreira. Ele tinha de deixar o seu mundo, um mundo de meio século – uma vida inteira !
- Vamos começar !
Comovido, quis desvirtuar a própria comoção. E, engrossando a voz num artificialismo cómico, mentiu, julgando que o acreditariam.
- Sim, porque hoje é um dia como qualquer outro. Ouviram ? Ouviram bem ? E quem não souber a lição... Ah, quem não souber a lição...
Os pequenos continuaram a olhá-lo como figuras de pedra. Mas, em alguns olhos, apareciam lágrimas.
- Vamos à leitura. Página 20.
Desceu porém do estrado, encaminhando-se para uma das janelas abertas.
Lá fora, junto ao caminho, o pequeno carreiro sinuoso que conduzia à escola. O mesmo, como há cinquenta anos atrás, quando ele, vindo de longe, de muito longe, chegara para ocupar o seu lugar de professor.
O sol batia-lhe agora nos cabelos prateados, que desciam quase até à nuca.
Como os anos tinham passado depressa !
Dir-se-ia que o tempo voara impulsionado pelo sortilégio de velhos alquimistas. Fora preciso aquela ordem para lhe lembrar os seus setenta anos.
Setenta anos ! Cuidava-se ainda com vinte.
Voltou-se.
Na sala, o mesmo silêncio – silêncio de morte, silêncio do fim !
- Porque me fitam dessa maneira ? Mas, eu já disse : hoje é um dia como outro qualquer. Porque não fazem barulho ? Porque se não magoam ? Porquê ? Porquê ?
E repisou, erguendo a voz insegura:
- Hoje é um dia como outro qualquer !
Mas, de súbito, virando as costas para a classe, rogou, espalmando, suplicante, a mão direita:
- Saiam. Saiam todos. Deixem-me só. E nem uma palavra. Não me digam nada. Depressa ! Depressa !
O silêncio tornou-se maior, depois, os pequenos levantaram-se e, um a um, foram saindo, de olhos no chão, em bicos de pés. Passaram, daí a pouco, debaixo das janelas, como revoada de pombas a que tivessem cortado as asas. Os pezitos raspavam na terra solta, e nuvens de pó envolviam os babeiros brancos.
Então, o velho professor sentiu chorar atrás de si. Voltou-se, com pânico. O Luis, que ficara no lugar, soluçava baixinho, apoiando a cabeça ao braço esquerdo.
- Luis ! Luis ! Meu filho ! Pois tu...
Foi buscá-lo ao lugar. Apertou-o muito ao peito, beijou-o na cabeça, na testa, na face ( como eu ainda sinto hoje esse aperto e aqueles beijos escaldantes !...).
- Não chores, Luis. Mas, que tolice ! Estás um homenzinho ! Vai chegar um professor novo. Eu já estava velho, meu filho. Muito velho Luis !... ( parece que ainda foi ontem que o ouvi dizer estas palavras !).
O pequeno recobrou o choro.
- Então, então ! Vá, sossega... Olha que eu zango-me ! Luis !...
Depois, com os olhos vidrados de lágrimas, murmurou:
- Senhor ! Senhor ! Levai-me agora !

*************************
O tempo correu, correu depressa.
E, quando a noite descia, o velho rondava a escola, como um namorado intranquilo.
Tacteava as paredes, numa volúpia inexplicável, sentava-se nos degraus, pisava o recreio, misturando, com as suas, as pegadas das crianças.
Adoeceu e esteve à morte.
E, uma noite, ergueu-se de manso, abriu a porta de sua casa e caminhou em frente.
O luar caía como uma benção, toucando os montes e as árvores.
Não ficava longe a escola, que, sob as estrelas, parecia ainda maior projectada no silêncio.
Não havia vento nas ramagens, nem rumores vivos a toda a volta.
Estacou.
- A minha escola ! A minha escola ! Foi dentro dela que a minha vida se gastou. Dias, meses, anos, longos anos de canseiras, de ansiedades de desgostos, e de alegrias.
Gritou:
- A escola é minha !
Mas, as próprias palavras o assustaram.
- Parece-me que gritei ! Se me ouvissem ? Talvez me cuidassem de doido.
E, baixando mais a voz:
- E eu não estou doido ! Ou estarei ? Quem sabe ?!... Quem poderá sabê-lo ?...
O luar espalhava-se mais e mais, adoçando as sombras. As arestas do edifício perdiam a agressividade, de tão iluminadas.
E o silêncio da noite morta quase tornava sonoro o mutismo das coisas inanimadas. As pedras, as árvores, a terra e as flores, iam comunicar entre si. Um fio as separava agora. Um fio que ia romper-se, dum momento para o outro.
- A escola é minha ! Tenho direitos sobre ela ! Sim, direitos ! Ninguém poderá afastar-me. Ninguém ! Estas pedras são a minha carne. Ouves ? Tu ouves ? Durante meio século, eu tive-te nos braços... Não é assim de repente que tudo se poderá acabar. Eles cuidam que sim. Eles não entendem isto. Pensavam que uma lei qualquer seria capaz de terminar com tudo, separar-me, destas pedras íntimas e queridas... A lei ! Acima da lei, está a minha ternura !
Alucinadamente, abriu mais os olhos e estendeu para a frente os braços trémulos. E começou a caminhar...
- «Luis, porque não estudaste a lição ? Estiveste doente, Manuel ? Vai ao mapa, Joaquim. Quem te fez mal, João ? Deu a hora, podem sair !...» Ah, mas eles não fizeram barulho. Porquê ? Têm asas nos pés... De que se haviam de lembrar: asas nos pés ! Assim, não há fruta que vingue. Voam às árvores, transpõem muros, vedações...
« Não chores, Luis ! Estás um homenzinho !...»


E pela manhã, quando os pequenos chegaram à escola, foram encontrar, caído, na escada de pedra, o velho professor.
Tocaram-lhe a medo. Estava frio. Mas, nos seus olhos, muito abertos e parados, havia duas gotas de luar, refulgindo ao sol nascente...


Falripas da Vida Viva

Luis – 2001-05-04

As Sevilhanas da Alma Alentejana no Lar São Tiago em Almada


A «Alma Alentejana» é uma Associação para o Desenvolvimento, Cooperação e Solidariedade Social, que nasceu a 13 de Abril de 1996, no seio da vasta família Alentejana, residente na Margem Sul (Almada).
Mais detalhes poderão ser vistos no Link que se segue do Site desta Associação:


ou ainda no site de apoio de autoria do Prof. José Rabaça, o Vice-Presidente desta Associação na Área Cultural: http://www.joraga.net/eAlentejo/

No sentido de animar as suas várias valências entretanto criadas no apoio Social, a Alma Alentejana criou na sua Área Cultural, entre outros, um grupo de dança: «As Sevilhanas da Alma Alentejana».

Este Grupo, para além do apoio à Alma Alentejana, tem feito muitas animações, em especial nos Lares de apoio à 3ª Idade.

Destacamos a de hoje em Almada, onde os residentes do Lar São Tiago poderam desfrutar de uma tarde dançante bem animada, na qual alguns acabaram por dar o seu contributo na parte final: e que bem que dançaram os nossos «velhotes»...

Marvão - Percurso do Contrabando do Café


Desde de dia 13 de Setembro é possível caminhar por entre a Serra de São Mamede e conhecer o Percurso do Contrabando Romântico do Café, no concelho de Marvão. Uma iniciativa da Câmara Municipal que pretende homenagear os contrabandistas da raia.


Galegos, Pitaranha e La Fontañera são algumas das localidades por onde o Percurso do Contrabando Romântico do Café, no concelho de Marvão, vai passar. Caminhar entre o terreno acidentado da Serra de São Mamede até cada uma destas aldeias para viver o contrabando que sustentava muitas famílias é a proposta deste passeio inaugurado a 13 de Setembro.


«Marvão foi pioneiro na torrefacção de café. Do outro lado da fronteira não havia. O café era então um produto muito contrabandeado para Espanha. Mas levava-se e trazia-se tudo», conta o responsável pela organização do Percurso, António Garreio.Além de uma vasta paisagem natural, o percurso irá ainda incluir a recriação de momentos contrabandistas «com a simulação de uma quadrilha de contrabandistas e de guardas-fiscais», acrescenta o mesmo responsável.


O percurso é circular e tem uma extensão de 7,5 quilómetros. O primeiro percruso fez-se no âmbito da I Feira do Café que decorreu em Marvão, de 11 a 13 de Setembro. O Percurso da responsabilidade da Câmara Municipal de Marvão pretende ser uma homenagem aos contrabandistas das localidades fronteiriças do concelho.


in «Café Portugal» terça-feira, 15 de Setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

“DIA DO CANTE ALENTEJANO” NA AMADORA


NAS COMEMORAÇÕES DO 30º ANIVERSÁRIO DA ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE DA AMADORA, VAI REALIZAR-SE O “DIA DO CANTE ALENTEJANO”, NAQUELA LOCALIDADE, NO PRÓXIMO DIA 19 DE SETEMBRO, PELAS 15H30.
Na programação deste evento cultural que se vai desenvolver no Parque da Cidade, Jardim da Falagueira, com desfile e actuação em palco, vão participar os seguintes Grupos Corais:

- Grupo Coral “Os Alentejanos”, da Amadora,

- Grupo Coral Alentejano da Damaia,

- Grupo Coral “Os Populares do Cacém”, Cacém,

- Grupo Coral e Etnográfico, “Amigos do Alentejo" do Feijó,

- Grupo Coral Alentejano da Brandoa,

- Grupo Coral Feminino “Madrigal”, de Vila Nova de São Bento.