terça-feira, 6 de abril de 2010

Alta Costura...As Mãos de Minha Mãe...


Quando se tem Mãe...

Que lindo sonho Mãezinha,
o lindo sonho que sonhei...

Como o Sol que é sempre moço, nas eternas madrugadas, também eu dera volta ao mundo voltara moço, sem envelhecer...
Rios e serras, mares e desertos, já tudo andara e de tudo me esquecera, e, em férias da vida corri ao teu encontro...
Em passo leve, de surpresa, eu galguei o portal, e, num grito de júbilo, enchi a nossa casa:
«Mãe! Mãezinha!...»
«Oh! Meu filho...»
... murmuraste, sufocada, ao apertar-me bem juntinho ao teu coração.
E abraçados ficámos, longo tempo, a sorrir e a chorar!...

Há 60 anos que te não via, nem tu me vias. E tão seguro e para sempre nos parecia este regresso de bem querer, que nem perguntávamos como isto pudera acontecer...
Não, Mãezinha, tu não morreras há 60 anos... Eram as mesmas as nossas vozes e também igual o nosso amor, que, por milagre, me tornara de novo o menino de aprender...
E quiseste saber como iam as minhas lições, a saúde, as faltas à escola, se nas aulas havia frio como no teu tempo e se os professores nos batiam muito.
Depois... bem, depois sentaste-te ao meu lado, na cadeira que fora minha, a repetir-me conselhos, para a vida e para a morte. E assim falaste:

«Ouve, meu filho, guarda bem o que vou dizer-te: que o teu corpo, para ser puro, lembre sempre que é feito da minha carne; que da tua pena não saia letra que eu não possa ler, nem dos teus lábios palavra que a tua Mãe não queira ouvir.
E que nunca os teus pés andem por onde os meus se manchariam...
Que o rosado da tua face que, desde o berço beijei, não seja nunca sangue de crime, nem marca rubra de vergonha, e que jamais os meus olhos chorem e se magoem lá no Céu, numa obra das tuas mãos ou numa ideia do teu espírito».


À medida que a tua boca suavíssima falava e me beijava, fora eu ajoelhando, contente, na promessa de bem cumprir, pois a minha vida ia agora começar, guiado por teu conselho.
E por graça do teu amor, tão pequenino me fui tornando, que por tuas mãos me recolheste na cova do teu regaço...
Da tua voz celeste fui então ouvindo a balada linda de embalar. Até os teus lábios, pousados, como leves plumas, nos meus olhos, me deram a inocência adormecida do Menino de Belém...
E, num leve passo de Anjo, me levaste em braços, e ajoelhando, de mansinho, me deitaste a sorrir, entre as rendas alvas por ti bordadas no meu antigo berço...

Que lindo sonho, Mãezinha,
o lindo sonho que sonhei...


Ao acordar, ainda o Sol, a enganar-me, me aloirava a minha cabeça, já com falripas de branco...
Mas o teu regaço de milagre era o travesseiro triste do meu leito...


Falripas de Minha Mãe
Luis – 2002-11-11

2 comentários:

  1. Foi realmente um sonho encantador. Eu, sem querer ser diferente, embora não sonhando sempre, todos os dias falo com a minha querida mãe, meu querido pai e meus queridos avós, os pais de meu pai e pais de minha mãe. Pensando especialmente nos conselhos de minha querida mãe e que eu não cumpri, é que hoje estou atavessando uma crise profunda. Mas eu vou-lhes pedindo a todos que ajudem a superar estes momentos menos bons e que vá trilhando novos caminhos, que me possibilitem e proporcionem mais felicidade a muita gente, e naturalmente aos que me são mais queridos.
    Um abraço amigo
    Joaquim Avó

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  2. São assim as nossas «Mães». Conseguem transmitir-nos «sonhos» tão intensos, que temos sempre dificuldade em os distinguir da realidade, ou pelo menos, em saber quando estamos a dormir ou acordados.
    Abraço. Obrigado.

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