sexta-feira, 9 de julho de 2010

ENCONTRO DE VIOLAS DE ARAME EM SÃO MIGUEL (Açores)

O nosso amigo no seu Blog casa-das-primas (http://casa-das-primas.blogspot.com/), já tinha dado (e volta a dar -ver o Blog acima) uma grande atenção a este assunto, a quando do
I Encontro/Oficinas de Violas de Arame realizado em Castro Verde, entre 11 a 13 de Setembro do ano transacto, exactamente com os mesmos participantes, que poderá ver/rever no referido Blog, ou ainda em:
"Workshop" de Violas de Arame - Castro Verde: http://www.acorestube.com/video/3399/Workshop-de-Violas-de-Arame--Castro-Verde/ (numa gentileza da Açorestube)
É um pequeno filme com um pouco do que foram as Oficinas de Violas de Arame, de 11 a 13 de Setembro, em Castro Verde.
As oficinas contaram com a presença de oradores/executantes sobre a Viola de Arame (Madeira) por Vitor Sardinha, Viola da Terra (Açores) por Rafael Carvalho, Viola Braguesa por José Barros e Viola Campaniça por Pedro Mestre, o responsável pela organização do evento e por juntar os tocadores de Campaniça nas "Rodas de Violas".


Mas vejamos o que nos reporta sobre este mesmo assunto o Jornal Diário do Alentejo na sua edição de hoje, a que poderá ter acesso no Link abaixo indicado:
http://da.ambaal.pt/alentejoilustrado/?link=noticia&id=2040

Cinco violas de arame encontraram-se nos Açores - A campaniça foi ver o mar
Quatro tocadores de violas de arame aceitaram o convite do músico açoriano Rafael Carvalho e do Conservatório Regional de Ponta Delgada para se apresentarem na ilha de São Miguel: Pedro Mestre e a sua campaniça, Vítor Sardinha e a viola de arames da Madeira, José Barros com a braguesa, Chico Lobo e a viola caipira brasileira juntaram-se à viola da terra do anfitrião para, de 2 a 4 de Julho, realizarem o II Encontro de Violas de Arame.

De Castro Verde aos Açores
A 1.ª edição deste encontro, que ocorreu em Setembro de 2009 em Castro Verde, foi ideia de Pedro Mestre e reuniu os quatro músicos profissionais portugueses. A eles juntaram-se três dezenas de tocadores da região em oficinas onde se falou sobre os instrumentos, se trocaram experiências e se tocou com muito prazer. A edição que decorreu nos Açores amadureceu a ideia original, levando-a ao Conservatório Regional de Ponta Delgada, onde a popular viola da terra açoriana já tem estatuto de instrumento de elite, através da dedicação e do talento do solista Rafael Carvalho.

As origens :
Antes de se mostrar à população de Ponta Delgada, num bem disposto e muito concorrido espectáculo nocturno na Baía das Portas do Mar, as violas foram motivo de conferência no conservatório. Os mais atentos foram os alunos de viola da terra do professor Rafael. Com José Barros ficaram a saber que a origem provável das cinco violas que enchiam o palco do bonito auditório era comum e estava na viola sarracena do século X - "que grande responsabilidade tocar a viola da terra", ouviram do tocador do grupo Navegante. Com Chico Lobo aprenderam o segredo da caipira, que só se deixa tocar se o seu violeiro lhe colocar no bojo o guizo da cauda de uma cascavel.

As vozes :
"No Alentejo diz-se que a campaniça é mais uma voz que acompanha as vozes dos homens",
disse Pedro Mestre aos alunos açorianos. E impressionou-os com a poderosa sonoridade da sua garganta e o toque da viola alentejana em forma de cabaça. Vítor Sardinha, que também lecciona viola de arame no Conservatório da Madeira, realçou a vertente de "socialização" das violas: "Estão presentes em todas as festividades do ano". E chamou a atenção: "É preciso escolarizar estes instrumentos". Nos Açores e na Madeira as violas da terra e de arames já estão nos conservatórios, chegará a campaniça ao Conservatório Regional do Baixo Alentejo, em Beja?

"Calor" da Ribeira Quente :
Depois do ensaio, no primeiro dia, em casa do anfitrião, acompanhado por um afectivo licor de amoras do Pico preparado por sua esposa Sílvia, da conferência e do espectáculo em Ponta Delgada no segundo dia, a terceira jornada materializou a função socializadora das violas portuguesas de que o mestre madeirense falara na véspera. Recebidos no Centro Paroquial e Social da Ribeira Quente pelos tocadores locais de violas da terra - outro grupo dinamizado por Rafael Carvalho, não estivesse ele na sua freguesia -, que formaram uma roda para ouvirem e acompanharem as violas convidadas, cantou-se ao despique. O "campaniço", habituado a acompanhar o baldão alentejano horas a fio, viu-se e desejou-se para responder aos desafios dos improvisadores da casa. Mas saiu-se bem, cativando as quatro dezenas de participantes, onde se destacou Guilherme Linhares, mestre de viola da terra homenageado naquele dia. Chico Lobo, como sempre faz, pediu licença aos donos da casa para tocar - fê-lo de tarde voltaria a fazê-lo à noite, no concerto que o quinteto, acompanhado pela almodovarense Ana Valadas, daria na igreja da Ribeira Quente.

Concerto "divino" :
A igreja da Ribeira Quente quis receber as violas em grande estilo: encheu-se de público entusiasmado e vestiu-se de gala. Foi calorosa a reacção do público: eram do povo os instrumentos - a viola da terra dos Açores, a campaniça do Alentejo, a viola de arames da Madeira, a braguesa do Minho e a caipira de Minas Gerais - mas a ocasião foi solene. Ali juntou-se o sagrado do templo e o profano das modas festivas, o sublime solo de Rafael Carvalho e as quadras divertidas de José Barros, o vozeirão troante de Pedro Mestre e o timbre cristalino de Ana Valadas, as aventuras do vasto sertão brasileiro e os temas da ilha da Madeira, a religiosidade tradicional da comunidade e a modernidade da transmissão "online" do concerto, apreciado nas sete partidas do Mundo.

A campaniça foi ver o mar :
A campaniça, que Pedro Mestre levou da planície interior alentejana aos Açores, viu o mar. Já havia cruzado o Atlântico até ao Brasil e ao Canadá, mas desta vez reencontrou as violas que conhecera em Castro Verde. As semelhanças são muitas, pois são todas "filhas" da mesma viola portuguesa e as diferenças que hoje têm foram-lhes sendo dadas pelos povos que as vêm tocando ao logo de séculos nos bailes de roda, nas romarias, nos despiques. O açoriano Rafael Carvalho, o madeirense Vítor Sardinha, o "minhoto" José Barros, o brasileiro Chico Lobo e Pedro Mestre, o alentejano da aldeia da Sete, compreenderam muito bem como as culturas e os povos, respeitando-se, podem conviver sem se sobreporem uns aos outros. Os encontros de violas de arame demonstraram-no e a terceira edição já está a ser preparada com espaço para mais convidados.

Viola dos Açores no conservatório :
O conservatório Regional de Ponta Delgada foi a entidade que organizou o Encontro, com o apoio do Governo Regional dos Açores. Herdeiro da Academia Regional, fundada há 88 anos, o conservatório tem perto de 500 alunos. A pianista Ana Paula Andrade, presidente do conselho executivo, afirma que "nos Açores sempre houve grande actividade cultural", com concertos de músicos que viajavam entre a Europa e os EUA e paravam no arquipélago. A viola da terra açoriana entrou no conservatório com um curso livre, em 2004 e há dois anos ganhou um curso básico. Rafael Carvalho é o professor deste instrumento. "O objectivo do curso", explica Ana Paula Andrade, "é que os alunos percebam a importância da viola da terra, que não é só das ilhas, mas faz parte de um universo de instrumentos que existem em outros lados. Estamos ligados ao Mundo".

Cinco violas de arame encontraram-se nos Açores:
Rafael Carvalho

Natural da Ribeira Quente, Açores, é o principal intérprete da viola da terra, para a qual também compõe. Aprendeu a tocar com o professor Carlos Quental e domina o instrumento com o talento dos grandes solistas. É professor do curso básico de viola da terra do Conservatório Regional, responsável pela Escola de Violas da Ribeira Quente e formador na Academia Musical de Povoação e da Escola de Viola da terra de Fajã de Baixo. Colabora com diversos grupos folclóricos e é membro fundador do trio Musica Nostra. Tem o site www.violadaterra.webs.com.

Pedro Mestre
Com 26 anos é o mais conhecido tocador de campaniça do Alentejo e um dos expoentes máximos da cultura da região. Natural de Sete (Castro Verde), tem uma actividade intensa, que vai das aulas de cante do 1.º ciclo, aos ensaios de grupos corais, da dinamização associativa à recolha, do acompanhamento de baldão à actuação em várias formações, entre as quais o Grupo de Violas Campaniças herdado de seus mestres. É, também, construtor de violas, possuindo uma oficina em Castro Verde.

Viola da Terra
É conhecida por ter dois corações - "o de quem parte e o de quem fica" - escavados no tampo e unidos pela lágrima da saudade. No cavalete está representado o que se julga ser um açor e as nove ilhas do arquipélago. Possui 12 cordas e tal como a campaniça alentejana toca-se com o polegar. Crê-se que tenha surgido nos Açores no século XV.

Viola Campaniça
Tomou no Alentejo o nome de campaniça por se encontrar na zona do Campo Branco. De cintura acentuada, em forma de cabaça, é composta por cinco cordas duplas que são dedilhadas com o polegar. É ideal para acompanhar os cantos de improviso - "é uma voz que se junta ás outras vozes", dizem os tocadores. Considerada extinta nos anos 80 ressurgiu pelo impulso de novos intérpretes, com destaque para Pedro Mestre.

José Barros
Desde o início dos anos 80 que se dedica aos instrumentos de corda tradicionais. Integrou conhecidos grupos de música popular, tendo viajado por todo o Mundo divulgando a música portuguesa. Talentoso, é capaz de interpretar variados instrumentos, especialmente violas tradicionais. Em 1993 fundou o grupo Navegante, a sua principal imagem de marca de qualidade e respeito pela cultura popular. Responsável por inúmeras oficinas de formação de instrumentos de cordas, é também investigador e prepara um mestrado nesta área.

Vítor Sardinha
Nascido no Funchal, formou-se em guitarra clássica no conservatório da Madeira e é professor do Ensino Básico. Realizou várias investigações sobre cultura popular madeirense e orientou o Observatório de Educação Musical. Integrou a Associação Musical Xarabanda e a Associação Cultural Encontros da Eira. Instrumentista de grande qualidade, alia a formação superior à vivência popular, sendo o maior divulgador da viola de arame da Madeira.

Chico Lobo
Compositor e executante sublime, é um dos maiores representantes dos famosos violeiros de Minas Gerais, Brasil. Compositor e intérprete, é responsável por programas semanais de música caipira na rádio e televisão brasileiras. Artista sensível e atento, estabeleceu uma relação muito especial com Portugal, em particular com o Alentejo, onde se vem apresentando nos últimos cinco anos.

Viola Braguesa
É o grande instrumento popular do Noroeste português das festas e romarias, acompanhando rusgas, chulas e desafios. Caracteriza-se, hoje, por uma boca em forma de raia, embora já tenha tido outras no passado. Toca-se a solo, acompanhando canto ou outros instrumentos, especialmente cavaquinho.

Viola de Arame da Madeira
Composta por nove cordas está ligada aos géneros mais conhecidos do arquipélago: Charamba, Mourisca, Bailinho e Baile da Meia Volta do Porto Santo, servindo, tradicionalmente, sobretudo para acompanhar vozes e danças. Descendente da viola barroca portuguesa, foi levada pelos emigrantes madeirenses para o Brasil, nos séculos XVIII e XIX, e aí enriquecida pelo imaginário poético da grande mescla cultural brasileira.

Viola Caipira
Descende das violas de arame portuguesas que chegaram ao Brasil pelas mãos dos jesuítas e colonizadores. Composta por 10 cordas, foi utilizada na catequização dos índios. A mescla de índio com branco que produziu o caboclo, reinventou a viola, passando a construí-la com madeiras locais e tripas de animais em vez de cordas de arame. Participa nas principais celebrações do caipira ("caa" = que corta + "pir" = o mato) brasileiro, sendo muito utilizada nas folias de Reis (janeiras) e nas festa de Junho.

Mas se quiser ficar com uma ideia melhor do que foi este II Encontro de Violas de Arame, ora veja no Link que se segue um Vídeo demosntrativo:
Pezinho Velho - Encontro de Violas de Arame: http://www.acorestube.com/video/4905/Pezinho-Velho--Encontro-de-Violas-de-Arame/

Ou ainda, na Web, fazendo uma visita ao site que de seguida se indica, onde poderá ver muita outra informação sobre Violas de Arame e ver o Vídeo sobre a Reportagem do Telejornal dos Açores, que refere que este Encontro foi transmitido directamente para todo o Mundo através da Internet (www.ribeiraquente.com) - a não perder em:
http://www.freewebs.com/violadaterra/

E agora? Agora só nos falta fazer a «reportagem» sobre um outro 2º Concerto de Violas Campaniças, este o das Violas Campaniças da Alma Alentejana, que vai logo, logo daqui a nada no recinto da Escola EB1 Nº2 do Laranjeiro...

2 comentários:

  1. violas campaniças e seus tocadores, daqui a mais uns anitos vamos ver o Pedro Luis neto do Moisão a dar musica á rapaziada.

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  2. Acabou à pouco o 2º Concerto do Jovem Pedro, que a continuar por este caminho e com os colegas e o Professor que tem, vai «dar música», sim senhor...Um abraço
    O Alentejo não tem fim!

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