sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Formiguinhas...





- O meu pensamento se eleva, neste momento,
para a Força Criadora de tudo o que existe.-
Jesus

Mais um dia passado e todas as formiguinhas se apressavam a regressar a suas casas. O celeiro estava quase cheio. O Inverno podia vir que não haveria receio de fome. Quem diria que com as suas próprias forças elas tinham conseguido, mercê é certo de um labor árduo, transportar, a pouco e pouco, uma enorme provisão que lhes permitiria passar a estação fria regaladas, sem privações e sem apreensão ?
Contudo havia uma coisa a aborrecê-las. Na tribo vizinha, a formiga chefe, vaidosa e má, não tolerava a insignificante rainhazinha, humilde e amiga das suas pequenas súbditas e por isso ternamente amada por elas. É que aquela rainha tão tímida e pequenina era realmente maior do que ela mesma. Tudo na minúscula aldeia respirava ordem e asseio.
As formiguinhas eram diligentes e trabalhavam alegremente. Não havia disputas nem zangas entre elas.
E a formiga má, que se chamava Negra, vivia torturada pelo ódio e ciúme da formiguinha Branca.
Havia pois um certo mal estar quando se encontravam frente a frente as súbditas de Negra e Branca. E a soberana má, estava sempre à espera de qualquer coisa que fizesse quebrar as tréguas que duravam havia anos.
Entretanto as condições climatéricas agravaram. Sentia-se no ar um prenúncio de tempestade e por isso naquele fim de tarde as formiguinhas de Branca andavam mais apressadas. A tarefa daquele dia estava quase concluída, quando os relâmpagos começaram a faiscar em todas as direcções e pouco depois, o ribombar dos trovões fazia estremecer tudo. Zelosa pelo bem estar das suas amiguinhas, Branca ordenou que terminassem os trabalhos naquela altura ficando adiada para o dia seguinte a conclusão da tarefa.
Contudo a aproximação do Inverno fê-la pensar que se ela conseguisse, por si só, ir buscar um pouco mais de trigo, talvez o grão se transportasse depois em menos tempo. E Branca à socapa escapuliu-se sem que a sua saída fosse notada. Que necessidade havia de preocupar as suas formiguinhas ?
Entretanto, Negra que estava à espreita, muito cautelosamente saiu também para dar uma lição àquela delambida. Seguiu Branca sorrateiramente e o rumor dos seus passos era abafado pelo barulho lho dos trovões. Ao chegar a uma pequena clareira, Branca foi assaltada de surpresa e derrubada. Negra era grande e forte, e tinha a seu favor o ódio e o ciúme que sempre a tinham animado contra Branca, que naquele momento e silenciosamente se pôs a chorar.
- Hás-de morrer, formiga Branca. Ninguém te ouve e amanhã pensarão que foi a tempestade que te matou. Morrerás e eu serei a rainha das tuas formigas e a minha tribo tornar-se-á maior porque elas trabalharão para mim e então serei rica.
Pobre Branca, trémula e só ! O seu pensamento foi até às suas amiguinhas num adeus mais triste do que o negro da noite escura que já então tinha descido completamente.
Entretanto, as formiguinhas de Branca que tinham dado pela sua falta, muito assustadas, saíram a procurá-la na escuridão, chorosas e aflitas, com receio de que alguma coisa tivesse acontecido à sua rainha.
Os seus passinhos ansiosos levaram-nas até à clareira onde Branca estava à mercê de Negra, mais negra ainda de raiva quando viu as filas cerradas daquelas formigas trabalhadoras que se bateram contra a tempestade para virem em socorro da sua chefe.
Negra temeu-as, fugiu e escondeu-se, mas, com receio de alguma represália daquelas pacíficas obreiras, não se atreveu a deixar o seu refúgio, esperando que as suas súbditas viessem em seu auxílio.
Mas assim não aconteceu. Negra, morta de frio e de cansaço foi encontrada na manhã seguinte por um pequeno grupo das amiguinhas de Branca. E, apesar dos cuidados com que a transportaram e do dó com que foi recebida e acarinhada na casa das «inimigas», não chegou a ver cair os primeiros farrapos de neve...



Falripas da Minha Catequese – Volume 1

Luis – 2001-01-27


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