sábado, 19 de setembro de 2009

Oficina de Violas de Arame no Programa «Sete Sóis» em Castro Verde


A matéria da crónica de hoje sobre os "Sete Sóis" versa sobre, o que foi para mim, o evento mais conseguido, mais completo, mais eficaz, do ponto de vista das consequências para o futuro, que foi o Encontro de violas de arame, ou a designação escolhida para o Programa dos "Sete Sóis", o de "Oficina de Violas de Arame".

A viola portuguesa chegou aos nossos dias sob várias designações, tais como: Braguesa, Ramaldeira, Amarantina, Toeira, de Arame, da Terra, Campaniça e até mesmo a Caipira de Minas Gerais.
A Oficina de Violas decorreu na Antiga Fábrica de Moagem Prazeres e Irmão, durante 3 dias, numa organização da Pedro Mestre-Viola Campaniça Produções Culturais integrado na Programação dos Sete Sóis.

Na pequena sala da "Fábrica", juntaram-se, nada mais,nada menos, que os maiores tocadores de viola "strictu sensu", seja de arame, braguesa, campaniça, da terra e caipira.

Naqueles pequenos metros quadrados da antiga fábrica de moagem em Castro Verde, tivemos juntos a tocar e a trocar ideias, virtuosidades e dicas para o futuro, tocadores como: Mestre Manuel Bento, Pedro Mestre, Amilcar Martins da Silva e Márcio Isidro pela viola campaniça alentejana, Vitor Sardinha pela viola de arame madeirense; Rafael Costa Carvalho pela viola da Terra dos Açores e José Barros pela viola Braguesa de Braga.

A metodologia escolhida para o evento, foi a de estender pelos 3 dias a exposição oral e execução prática nas suas violas ,dos tocadores das 4 violas em análise.
Assim, no primeiro dia assistimos à exposição oral dos dois tocadores que vieram das ilhas:
O Rafael Costa Carvalho dos Açores , e o Vitor Sardinha da Madeira.
O primeiro foi o Rafael, que nos falou sobre a Viola da Terra, contando a sua história, descrevendo a sua composição física, explicando a simbologia das suas
marcas e adereços, enquanto dedilhava exemplificando as técnicas de execução.Ficámos a saber que a Viola da Terra terá surgido nos Açores na segunda metade do século XV, levada pelos primeiros povoadores. A Viola da Terra que também é conhecida por Viola de Arame, ou Viola dos Dois Corações, era, e é, acompanhante natural de todos os cantares festivos, «balhos», derriços, desgarradas, desafios e despiques, e também dos devaneios sentimentais, líricos e amorosos.Por entre risos o Rafael esclareceu ainda que a viola da terra tem um espelho embutido entre a cabeça e a escala, que , explicou, deriva da vaidade dos tocadores açorianos, que quando se ausentavam de casa para tocar em festas e «balhos» pernoitando fora, utilizavam o espelho para se barbearem.
De palavra fácil, discurso escorreito, o Rafael foi explicando que os 2 corações que configuram a boca da viola da terra, simbolizam a saudade do coração que parte, que emigra e a saudade do coração que fica. Os dois corações estão ligados por um cordão umbilical a uma lágrima, a lágrima da saudade. A lágrima tem a forma de um ás de oiros que representa a busca da fortuna, afinal, o objectivo dos emigrantes .
Ao entrar na fase da execução, o Rafael salientou aquilo que faz a principal diferença na técnica utilizada pelos tocadores açorianos - a utilização do polegar - tocando alguns trechos com grande virtuosismo, arrancando os aplausos conhecedores da sala. (ver fazendo click no Link que se segue): http://www.youtube.com/watch?v=EUgZejTjiLU&feature=player_embedded

O segundo tocador da tarde do primeiro dia foi o madeirense Vitor Sardinha, que nos veio apresentar a Viola de Arame.
A Viola de Arame é a viola da Ilha da Madeira.Tal como o Rafael, o Vitor Sardinha é também professor de viola, no Conservatório de Música da Madeira, e por isso também habituado a falar em público, revelando-se também , um grande comunicador.

Vitor Sardinha esmiuçou também a sua viola, integrando-a no grupo mais lato da viola portuguesa.Instrumento com 9 cordas, com uma afinação do agudo para o grave na sequência ré-si.sol.ré.sol.
Salientou a importância da localização geográfica da Ilha da Madeira, com o seu porto Atlântico e a emigração insular a influenciar decisivamente o toque, os sons e o timbre da viola de arame madeirense.Mais perto de África e das Canárias do que do Continente, do qual esteve aliás longe, aquando da ocupação inglesa, e com uma forte ligação marítima com o Brasil, e Cabo Verde, a viola madeirense bebeu muito das influências tropicais e africanas.Ficámos ainda a saber que a viola de arame madeirense é o instrumento predilecto para acompanhar as charambas, as mouriscas, o bailinho e o baile da meia volta, este último do Porto Santo.E Vitor Sardinha passou à execução igualmente virtuosa e dialogante que a todos prendeu, arrancando os aplausos entusiasmados da sala. (ver fazendo click no Link que se segue):
http://www.youtube.com/watch?v=p_NB4wlygCA&feature=player_embedded


No final, do dia, os presentes foram convidados a empunhar as suas violas, e numa roda de tocadores, onde além dos quatro conferencistas figuravam mestres como Manuel Bento, Amilcar Martins da Silva, Marcio Isidro e outros.
Foi um momento alto da tarde. (ver fazendo click ni Link que se segue):
http://www.youtube.com/watch?v=ZYqmG8n1AjU&feature=player_embedded
Nota: este registo, que se refere ao 1º Dia da «Oficina de Violas de Arame» integrado no evento «Sete Sóis, Sete Luas» que decorreu recentemente em Castro Verde, foi amavelmente cedido pelo Blog http://casa-das-primas.blogspot.com/
onde poderão ver uma «reportagem» muito mais detalhada deste brilhante evento que animou nestes dias esta localidade.

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